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LUTO- PASSO A PASSO A DOR DA PERDA


A morte pode ser considerada a cessação definitiva dos processos vitais de um organismo. É um fenômeno complexo, um dos conflitos fundamentais do ser humano. O que acontece após a morte é um mistério, que vai ser compreendido através da religião e da fé de cada pessoa, e passa necessariamente pelo enfrentamento dos nossos limites dentro do Universo. Se estamos vivos, é porque aprendemos a lutar contra ela, com nosso instinto de sobrevivência nos preservando dos perigos , e com isso acabamos declarando "guerra" à morte, que começa a ocupar um lugar —de inimiga da vida. Nosso maior confronto com a morte acontece quando um ente querido a experimenta. Percebemos que a morte é limite da vida, no sentido de que abrevia sua duração, e ao pensar a morte como possibilidade, o homem descobre a própria finitude e portanto a própria vulnerabilidade. Então, o que fica evidenciado é que somos mortais, temos pouco tempo na Terra, somos bem passageiros e impotentes. Essa constatação causa tristeza, desconforto, pois buscamos ilusoriamente a longevidade, e a imortalidade. Por conta de acabarmos estabelecendo relacionamentos narcísicos com os parentes (gostar porque se parece a nós),acreditamos que são os mais especiais, os mais exemplares, e nos vinculamos fortemente a essas figuras. Perder essa companhia para sempre é inadmissível, porque ninguém quer perder nada (só achar), e a consciência não consegue assimilar o fato de que a pessoa amada se foi. E à inimiga "morte" se soma agora a nossa raiva, e o medo de tamanho poder. Ela é capaz até de fazer com que a pessoa tão querida nos abandone! As relações parentais, por mais que estejam envolvidas em afetividade, sempre deixam a desejar, pois as pessoas são diferentes e como tais discutem diferentes pontos de vista. E lá se vai o parente sem que tivéssemos tido tempo para reparar uma relação amarga ou hostil, sem que se falasse mais sobre as diferenças...enfim, é o sentimento de culpa que se instala bem de mansinho para acusar as "maldades" que acreditamos ter cometido, mas normalmente giram em torno de mais dedicação, de paciência, ou de nada, só culpa mesmo. É tanta a angústia nessa altura dos acontecimentos, que quase sem fôlego para aguentar essa inimiga , quando pensamos que vamos perder o chão, entra em cena um mecanismo para nos defender psicologicamente chama-se mecanismo de defesa de negação. O que ele vai fazer? -NEGAR - e, a partir desse ponto, a impressão que temos é que não é real, não é conosco, tudo não passa de uma farsa, uma história, ..., ninguém morreu.No dia seguinte ao enterro ficamos esperando que as coisas voltem em seus eixos, e que a pessoa reapareça para dizer e fazer tudo como sempre, mas isso não acontece. Então nos deparamos efetivamente com a ausência E o mecanismo que negou, vai aos poucos afrouxando as rédeas para que possamos perceber devagarinho a realidade. Quanto mais ele afrouxa e sai da cena, mais se percebe a ausência; e a dor dessa verdade fará desenvolver a depressão, necessária para que sejam revistos valores, proporcionando momentos de crescimentos psicológico e espiritual. Tempo propício para rever o conceito da morte como inimiga ,pois da mesma forma que a trajetória de um projétil termina quando ele atinge o alvo, assim também a vida termina na morte, que é, portanto, o alvo para o qual tende a vida inteira. Também sua ascensão e seu zénite são apenas etapas e meios através dos quais se alcança o objetivo, o fim, que é a morte. Quando traçamos somente objetivos materiais para nossa vida, no confronto com a morte, tudo perde o sentido. O sentimento característico observado nessa etapa é tristeza. Algumas pessoas demonstram mais abertamente sua tristeza, outras nem tanto, mas não se pode medir a intensidade de amor e sofrimento entre elas. Todas essas emoções fazem parte da vida e nossos filhos também precisam ver quando as sentimos e compartilhá-las conosco. Deixe a criança tomar parte do luto oficial, qualquer que seja o caso. Viver o luto, elaborar a perda, livrar-se das culpas fazem parte do processo. Mas o primeiro passo é restabelecer a rotina e manter o equilíbrio, isto é, não faça de conta que aquela pessoa nunca existiu, nem faça de sua casa um relicário a ela dedicado. Nessas horas, o apoio da comunidade é de fundamental importância, pois dependerá a sua certeza de que a pessoa está bem onde está, e nos rituais da nossa religião encontramos conforto ,embora tendo o cuidado de não usar esses momentos só para reenfatizar a sua perda. Lembrar-se que você chora por si mesmo, pela sua própria perda, e às vezes por conta do seu egoísmo, deve ser levado em consideração, para ir diminuindo a tristeza, e quem sabe ajudará a transformar essa vida que se foi, em saudades boas, com recordações dos momentos felizes juntos. Finalizando, gostaria de chamar sua atenção , caro leitor, na semana que se homenageia os mortos para refletir sobre sua maneira de encarar as perdas, bem como sua forma de viver, e o que realmente interessa viver, rumo ao desfecho final.

Matéria publicada dia 10 dde novembro de 2003

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