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O PERDOAR


No exemplar anterior falávamos sobre os efeitos negativos da permanência de uma raiva dentro de nós, e de quando um fato acontecido gerou uma grande raiva, porém, por necessidade de aceitação social, reprimimos a raiva, não a extravasamos e, além disso, por falta de condições emocionais, não tomamos a atitude de reorganização desses fatos. Falamos ainda da grande quantidade de tempo desperdiçado com pensamentos de vingança, e dos pensamentos compulsivos de raiva remoendo e conseqüentemente minando nossa saúde. Sem contar que a outra pessoa envolvida vai continuar feliz apesar de nossos desejos. Então vamos pensar em algumas situações que possam nos auxiliar nesse processo de elaboração do fato para exercer o perdão. Um melhor entendimento poderá nos retirar do papel de vítima da situação, dando a cada um sua verdadeira parcela de culpa pelo ocorrido, minimizando a raiva. Temos o hábito de considerarmos válido somente a nossa forma de pensar e de ver o mundo. Isso é no mínimo um pensamento infantil, pois cada pessoa faz uma apreensão do mundo, o decodifica e o entende à sua maneira. Isso faz com que cada um tenha suas interpretações sobre os diversos acontecimentos. Você não sabe as razões internas do outro para ter agido como agiu, pode ter havido pontos de vista opostos. Um fator muito importante é que somos estruturalmente diferentes no que diz respeito à força ou debilidade do ego. Umas pessoas são intolerantes a qualquer crítica, dizem que são muito sensíveis; outras ouvem críticas, aproveitam o que é bom e descartam o que não serve. Devo ressaltar que as pessoas do segundo caso têm mais chances para a felicidade, para a boa convivência, bem como crescimento pessoal e espiritual. Seria interessante que você faça um estudo sincero desses fatores na sua personalidade, que criaram tão infeliz relação, da sua parte. Outra situação pode vir da ingenuidade, acreditamos que o outro é infalível e perfeito, que nos ama de verdade, criando assim alto grau de expectativa sobre sua conduta exemplar. Ao deparar com uma pessoa comum, que falha, cai por terra essa idealização que se tinha sobre o outro. É sempre bom exercitar tolerância e compreensão, não encare o outro como vilão em potencial que só quer lhe fazer mal, pois nem sempre a atitude nefasta tem você de foco, mas a própria pessoa, e que não mediu as conseqüências no entorno. Você precisa se esforçar para tornar-se inteiramente consciente do mal que o ressentimento lhe pode fazer, tornando-o uma pessoa pior, até adoecer. Se perceber que essa história toda o tornou uma pessoa dura em seus pensamentos, abra sua mente para que os agravos saiam dela. Por exemplo escreva uma carta à pessoa contra a qual tem ressentimento, contando tudo, desabafando mesmo. Mas depois rasgue a carta, entregando o assunto para Deus, e esqueça. Esquecer não é apagar da mente porque não existe uma borracha que faça isso, mas é lembrar sem dor, sem nenhum tipo de emoção, como se fosse um caso de alguém que não é você. Enquanto houver emoção, não houve esquecimento, não houve perdão. Lembre-se que pode ter alguém em algum lugar sentindo enorme raiva de você também, porque todos temos de encarar nossa humanidade, com nossa ignorância nossos enganos, bem como nossos erros, e você também os têm. Procure um amigo com o qual possa desabafar, mas que seja discreto sóbrio e no qual confie. Algo muito rico nos foi legado como presente: o Pai Nosso, uma oração milenar que nos diz da importância do perdão, sabiamente nos livrando de doenças originadas por um comportamento rancoroso e amargo. Acho que privilegia muito mais a quem perdoa, não acham? Isso não é magnífico? Por fim, após rever esses itens acima, reze o Pai Nosso sem excluir ninguém, conscientemente, e se você confiar na oração, entregue sua raiva. Aí você estará em condições para perdoar.


Matéria publicada no jornal dia 10 de novembro de 2006

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