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PERDOANDO


Quando fazemos uma pausa para uma conversinha, é muito comum encontrarmos pessoas ressentidas, magoadas, e até enraivecidas. E a cada vez que verbalizam o caso vivido, sempre encontram argumentos suficientes para manter essa raiva. Parece que não tem jeito porque a tal situação está recheada de maldade e más intenções pela outra parte.Uma senhora me contava certa vez, que quando rezava o Pai Nosso, ela mesma já se falava que as outras ofensas ela perdoaria, mas a ofensa x... Bem, essa não. Era muito antiga e muito dolorosa, uma verdadeira “cachorrada”, portanto fazia questão de permanecer com a raiva. É interessante observar que a maioria das pessoas guarda uma raiva dessas como “relíquia”. Acredito que para a religião, uma das situações de maior importância para o católico é justamente poder ou saber perdoar. Escolhi por isso nesta edição, refletir um pouco sobre o perdão, ou a falta dele, mas pensando na dificuldade, do ponto de vista da psicologia . Será que conseguimos perdoar de verdade, sem ser da boca para fora? Por que umas ofensas deixam tanta dor? Como perdoar? Para começar, o sentimento de raiva é instintual, e se o temos, é natural que se manifeste, muito embora sabemos que socialmente é mais aceita a pessoa que não demonstrar a raiva. Então, para sermos aceitos, toda raiva sentida acaba ficando muito na esfera do pensamento para que ninguém a veja e para que sejamos aceitos como pessoas boas e passivas, fáceis de conviver. Mas de outro lado, surgem os “mais sinceros e ocultos” desejos de que o outro se dê muito mal, e se possível, que ele suma.Não sendo suficiente, e usando a imaginação a pessoa se vinga, cria situações mil, até delirando um conluio com Deus para que Ele faça a justiça e traga a vinguança. Saber más notícias da referida pessoa é um deleite. Olha só, a pessoa pensa na raiva quando está trabalhando, no lazer, nos afazeres diários, ou mesmo quando vai para a cama, para dormir. Fica com todos esse pensamentos a acompanhando durante as vinte e quatro horas de muitos dias. Com isso cria um monstro que domina seus pensamentos o tempo todo e não consegue elaborar o fato acontecido, por não ter tomado uma atitude. Tem-se aqui um enorme inimigo, mas na verdade, tomou a proporção da importância que a pessoa deu ao fato. Teria sido mais simples poder sentir a raiva e ter desabafado essa raiva logo após, com a própria pessoa causadora, aparando as arestas. Mas como demonstrar algo que socialmente não é aceito? Então, por impossibilidade, a pessoa se cala. -“Mas não dá pra falar porque eu não sei falar, vou estourar. E essa pessoa é meu chefe. - ou outros motivos- mas o maior de todos - é que não lidamos com a raiva,nossa ou de outros. Fica difícil até lidar com a raiva da criança, por isso a solução mais fácil é reprimi-la. Acostumamos com os adultos que não falam porque não conseguem, e que remordem o assunto compulsivamente e seguimos o mesmo comportamento. Surge então o sentimento de não ter podido vingar-se, que corrói, fazendo a idéia permanecer. E o deveria ser algo passageiro permanece com força total no pensamento. Pensar tanto vai gerar acúmulo de ressentimento, que vai fazer doença. Preste atenção, sentir essa raiva faz mal àquele que a sente, e muito. Mas o que se fala é que se está “magoado”, não enraivecido. Trocamos o nome do sentimento Se você nem se permitiu sentir a raiva conscientemente, como vai perdoar? Em alguns casos, fala-se em perdão, mas sem esquecer. Então significa que nada foi realmente resolvido, ficou em aberto. Enquanto isso, ao outro, o que estará acontecendo com ele? Provavelmente está levando e plantando a vida, e o que plantar, colherá. Essa é uma lei de física, acontece com tudo aqui no nosso planeta. Temos o livre arbítrio para plantarmos e colhermos, e isso é só conosco. Ao plantador cabe decidir o quê quer colher, não podemos interferir nas decisões dos outros, não nos cabe julgar, nem vingar nada, tudo acontece a seu tempo apesar de nossos desejos. O outro não sofre a mais pela nossa indiferença, raiva ou ressentimento, mas poderá colher frutos amargos por conta de seu plantio. Agora, você querido leitor, inteligente, já percebeu que a carga de raiva desestrutura só quem a sente, não é? E que a gente não precisa dar IBOPE para uma pessoa que consideramos persona non grata. Na próxima edição vamos falar das dicas práticas para iniciar um perdão que está difícil de ser elaborado.

Até lá.

Matéria publicada no jornal dia 10 deoutubro de 2006




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