top of page

O QUE É ADOLESCÊNCIA


Vamos refletir neste mês sobre um período de vida pelo qual nós todos já passamos e conseguimos sobreviver a ele, apesar das nossas contradições nessa época, bem como dos inúmeros perigos e muita angústia a vencer: a adolescência.

Luiz Carlos Osório (psiquiatra) em seu livro Adolescente hoje, define a adolescência “como uma etapa evolutiva peculiar ao ser humano. Nela culmina todo o processo maturativo biopsicossocial do indivíduo”.

Então devemos entender a adolescência como um aglomerado de processos diversos que estão em amadurecimento para a formação da pessoa adulta. Como se vê, não devemos pensar só na transformação corporal e sexual, mas principalmente no crescimento emocional acontecendo e propiciando a formação da identidade.

Em especial enfatizaremos o relacionamento do adolescente consigo mesmo e com seu contexto de vida.

Como é difícil para uma criança de treze anos dar-se conta que está chegando a hora de viver por si só! E que precisa separar-se emocionalmente dos pais. Ao mesmo tempo em que fascina o fato de estar livre das ordens sentindo “o poder sobre si”, de outro lado surge a alarmante noção das obrigações que necessita abraçar a fim de sobreviver sem esses pais, obrigando-se a ser igual, ou melhor que eles, adquirir auto-suficiência, e posteriormente cuidar também de uma família. E sabe que vai fazer parte desse processo uma capacitação profissional eficaz, rentável e claro, prazerosa, pois está em pleno gozo da vida!

Assumindo um corpo ainda novo, pois acabou de ser modificado pela puberdade, ainda amarga o luto da perda (simbólico) do corpo infantil, bem como das brincadeiras e vantagens que a infância trás. Tudo mudou completamente, encontrando-se o adolescente com uma séria crise de valores, transitando entre a família e os amigos. Esses, o objeto maior de seu interesse.

E. Erikson, chamou a adolescência de crise “normativa”, isto é, uma organização da identidade do sujeito.

Bem, então vamos falar sobre essa identidade. Resumidamente, é a consciência que o indivíduo tem de si mesmo como “um ser no mundo”. Um ser único, com seu corpo e suas características únicas, com suas recordações passadas, com suas idéias próprias, com os vínculos que cria. Ele se percebe sem os pais. Nesse movimento, por conta da insegurança da nova situação, surgem três perguntas para responder: o que ele pensa que é, o que os outros pensam que ele é, e o que ele pensa que os outros pensam que ele é.

Com medo de não ser aceito socialmente, por não saber o que os outros pensam sobre ele, e porque duvida se conseguirá dar conta de viver, torna-se muito exigente, e sofre ainda mais por criticar-se demasiadamente e também aos outros. Está sempre insatisfeito, e a crítica severa aos pais, bem como a escolha das roupas é manifestação sintomática disso. Saldo final é uma grande quantidade de roupas e coisas fora do armário, esparramadas, até pelo chão. Quarto de adolescente é uma bagunça só!

Porém, o que mais preocupa os pais, é a maneira forte do filho se contrapor a eles.

Bem, os pais são o seu maior vínculo, e como não poderá ficar bebê para sempre, precisa definir-se, e a seus objetivos, então, para facilitar aquele processo discriminatório (eu sou único), não pode mais se confundir com os pais, e o negócio é confronta-los. É uma forma de se diferenciar, adquirindo sua identidade. Quanto mais estiver fundido a esses pais, mais terá suas crises de fúria no intuito de separar-se dos mesmos, sendo mais rebelde. Como não quer mais se identificar com esses adultos busca outros, um grupo de iguais, amigos onde seja propício o a troca de experiências, e uma nova identificação dos limites entre “eu e o outro”, fora da família. O adolescente necessita daquelas três respostas, e é só na relação com o outro que ele fará as suas leituras. Sua auto-estima estará contribuindo positiva ou negativamente para essa construção.

Junte-se à situação, o diálogo truncado entre as pessoas em geral, a falta de tempo por parte dos pais, e a dificuldade de entender o que se passa com o filho, que eles não conhecem mais, pois a criança conhecida, “morreu”. Instala-se a intolerância permeando as relações, provocando uma barreira entre eles e o adolescente. Atenção, porque inteligência e equilíbrio são fundamentais nessa hora, além de muita calma.

Gente! Sem rebeldia e sem contestação não há adolescência, e o adolescente submisso é uma exceção à normalidade.Quanto mais contestador, maior capacidade para colocar suas idéias futuras, formando os futuros líderes. Todo pai gostaria de ver um líder em seu filho, mas sentar com o mesmo para ouvi-lo, refletir sobre, e contra argumentar (ou concordar), precisa acontecer antes, para estabelecer essa liderança. Se o pai for outro adolescente, não dá mesmo (temos muitos “adultecentes” não é?), pois vai agir igualzinho ao filho, querendo impor-se na força.

O adolescente necessita poder acessar informações atuais, reais, ter condições de testar suas idéias na vida, mesmo que os pais não concordem. Essas experiências devem ser aproveitadas com inteligência, pelos adultos. Em cima de acerto e erro ajudá-lo a construir, sem se autodestruir. Saber quando pará-lo, mas deixá-lo experimentar algumas idéias.

Todo cuidado e atenção devem ser dispensados, pois não se pode confundir esse processo, com delinqüência, pois esta tem um comportamento de caráter frio, narcisista, pouco afetivo, e consumista. Deve-se dar ao jovem a ética como modelo, alicerçada na reflexão, na responsabilidade em assumir de verdade seus atos, para que o adolescente consiga sua afirmação social, obtendo respostas positivas relativas às perguntas iniciais.

Mas existe um mecanismo auxiliando a passagem da adolescência, e que pode ser muito perigoso ao mesmo tempo, Falaremos dele na próxima edição. Enquanto isso organize suas respostas, sobre as três questões, e até lá.


Matéria publicada no jornal dia 10 de março de 2006


Recent Posts
Archive
Search By Tags
bottom of page