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RELACIONAMENTO AFETIVO - DO JEITO QUE VOCÊ ME FALA - PARTE I


Nas discussões, principalmente entre casais, ou pais e filhos é comum que o mais eloqüente submeta e subjugue o outro com a “pretensão” de corrigir algo, mas o que faz é arrasar o outro. A fala do arrasado gira em torno deste pensamento: “-Do jeito que você me fala, eu me sinto a última das pessoas... inútil... Você acaba comigo!” Uma palavra mal dita pode ser mais violenta que uma chicotada, e marcar o ouvinte como se fosse ferro em brasa, para sempre, adoecendo e minando sua auto-estima e influenciando negativamente nas suas escolhas futuras. São palavras carregadas da emoção do momento, e que às vezes estão envoltas em muita ira. Sempre pergunto aos pais se estão corrigindo o erro dos filhos, ou se estão descontando a raiva que aquela situação provocou neles para formularem palavras tão depreciativa e agressiva aos mesmos. Parece que a discussão vem imbuída de rancor, nada tendo de educativo nisso. E parece que é a forma geral de se falar. Mas será que só existe essa forma de falar? Dividindo didaticamente os faladores, para nossa reflexão, encontramos durante um diálogo, três grupos de pessoas: O grupo dos que se acreditam muito francos, e em nome dessa franqueza vão ofendendo a torto e direito, e falando de mau jeito tudo aquilo que pensam, cuspindo grosserias e impropérios por onde passam. As suas verdades precisam prevalecer, não importando a realidade do outro. Esses indivíduos adoecem as pessoas no seu entorno e boa parte delas carregam marcas dessas conversas indigestas, e ficam impossibilitadas nos diálogos futuros, de transmitirem seus sentimentos e opiniões. Pais implacáveis, intransigentes, estão enquadrados aqui, pois aniquilam o filho (e também seu conjuge). Isso vai gerar o grupo da maioria - adultos que quando filhos, não podiam falar. Esse grupo da grande maioria é constituído por pessoas cujas frases ficam entaladas nas gargantas provocando problemas nas amídalas, cordas vocais, rouquidão, perda da voz e problemas das vias respiratórias em geral. Essa pessoa não se defende verbalmente, só consegue falar sua defesa (ou ofensa) aos outros, e não enfrenta aquele que o ofende. Mas o assunto se agrava quando falamos em casais, onde são tão comuns as discussões, e quase sempre encontramos um dos conjuges que não dialoga positivamente. Na universidade de Washington em Seattle, E.U.A., o psicólogo John Gottman, estuda o relacionamento de casais e a importância da verbalização entre eles. Uma de suas descobertas é a de que não há casais felizes. Explica que em todos os relacionamentos emocionais duradouros, sempre haverá conflitos crônicos. E que quase sempre aquele com melhor resolução verbal impõe sua opinião sobre o outro. Afirma ainda que casais que não tenham assuntos crônicos de disputa deveriam se preocupar, pois alguém está imobilizado no diálogo. Isto é um alívio para a maioria dos casais que vivem discutindo, não é? Nós temos conceitos de que para ser feliz o casal não pode ter entreveros, mas talves o foco seja outro – aprender a discutir. “Os homens são mais emocionais e agem mais na defesa e ataque, por isso é difícil argumentar ou ganhar uma luta deles”, diz ainda Gottman Baseados nessa descoberta se pode pensar nessas discussões de casais, e associa-la a uma luta: Quando alguém faz um gesto de desprezo ou ironia enquanto fala, isso é suficiente para acertar o estômago do parceiro como um soco, que terá os batimentos cardíacos elevados, sentindo um gosto amargo de ira na boca e lá vem o revide para cima do outro, numa grande explosão. Começou o “primeiro round” e sabe-se lá quantos mais, até alguém se considerar vencido, e desistir. Mas, em qualquer tipo de desentendimento, não se deve usar atitudes que façam com que o outro saia da discussão ou sentindo-se com vontade de responder com maldade, ou retraindo-se como uma vítima ferida, pois aí residirá o perigo da separação do casal, quando haverá o abandono da luta, por não sentir vantagem alguma em manter o vínculo com alguém que demonstra não querer mais sua permanência nesse jogo, e joga sujo. Outra situação desgastante diz respeito ao grupo das “pessoas perfeitas” que só criticam a outra parte. Depois de algum tempo dessa convivência, por defesa, a pessoa tida como “imperfeita” ignorará os comentários de forma geral, e perderá a escuta, mesmo quando a crítica for pertinente, impedindo a troca entre eles, conseqüentemente o crescimento da relação, o que será uma lástima. Uma outra reação também é esperada, quando essa pessoa passa a introjetar todos esses comentários, isto é, acreditando-se assim, uma porcaria, incapaz, e vai ser mesmo, tudo conspira contra ela. Teremos mais um membro para o grupo dos que não falam, e isso é igualmente triste. Gostaria de enfatizar que essas formas de diálogo acontecem principalmente com as pessoas que mais convivemos, e acreditamos fazer isso por amor. Então, como falar de jeito? Você sabe como não gosta de ser tratado, não sabe? Como a prosa vai ficar boa porque você vai pensar, vale a pena esperar essa resposta no próximo exemplar. Até lá.

Matéria publicada no jornal dia 10 de outubro de 2005


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