top of page

UMA QUESTÃO DE ÉTICA


Um dos assuntos mais polêmicos e até difícil com o qual nos deparamos atualmente diz respeito à moral e ética. Diariamente ouvimos notícias que denigrem o cidadão decente mostrando que os escândalos políticos acabam em pizzas, depreciando e menosprezando nossa capacidade inteligente, nos tendo como tolos. O trabalho virou um contra valor, e todos querem seguir a famosa lei de Gerson para levar vantagens em tudo, e nós consumismos muito, querendo a satisfação do prazer a qualquer preço. A estética substitui a ética, com exageros de transparências televisivas e faladas. Filhos autoritários, pais assustados e reféns da violência, ninguém se entende, e parece não existir limite. Acho que perdemos a bússola. Para que lado ir? Ah! Que saudade dos meus tempos de menina, quando numa outra realidade, aos domingos eu ia feliz pela rua, mão dada com minha mãe, conversando, e levando meu véu branco de renda, para com ele, respeitosamente assistir a missa. Quem se lembra disso? Hoje, a “telemãemotorista”, monitora o filho pelo telefone, inquirindo se comeu, fez lição, estudou inglês, e ao levá-lo apressadamente à escola, aproveita o tempo para dar-lhe lição de moral: - “Quantas vezes eu já disse que você precisa respeitar as pessoas, pare de arranjar encrencas na escola, você só me deixa triste”. Enquanto fala, dirige nervosamente, xinga o idoso de “molenga” por estar atrapalhando a sua frente, fecha o vidro na cara da criancinha que vende balas no farol fingindo que ela não existe, e por fim, sem lugar para estacionar bem próximo, prefere estacionar fazendo fila dupla, impedindo o fluxo normal do trânsito quando então “despeja” o filho na escola. Ao dar a partida, liga o rádio do carro, pois necessita ser bem informada, e ouve sobre o saldo de mortos americanos no Iraque... Dentro desse contexto, vamos entender um pouco mais sobre moral e ética. Ambas caminham juntas, e moral está vinculada aos costumes sociais, onde indivíduos concordam com a padronização de normas de conduta, para que todos tenham direitos e deveres iguais. Por exemplo, matar um homem é crime, mas, entendendo nosso exemplo, só quando o homem estiver aquém da fronteira americana. Pois se estiver além, e se for invasor ou inimigo, matá-lo pode ser considerado um ato heróico. Então percebemos que moral está ligada aos costumes que são aprendidos na família, representados principalmente através do pai. Em relação à guerra, a realidade moral americana é a mesma para os iraquianos, porém não é nossa; nós brasileiros não gostamos de guerra, e por isso não apoiamos algumas e podemos pensar diferente, com mais tolerância e aceitação em relação aos estrangeiros, mas temos nossas violências individuais e essas nós praticamos. Vide a mãe do exemplo: ignorou a criança no trânsito, e sabemos qual a definição de violência? É a ignoração de uma pessoa, pela outra.Então, ela é violenta. Ética é o que dá forma ao sujeito, é o vir a ser na maneira de buscar os seus desejos, é a atuação para obtenção do que quer, respeitando a moral (ou não, sendo antiético). A ética impulsiona a pessoa ao respeito e cumprimento das leis, sendo formada por ambos os pais, através de seus exemplos. Atenção, pois estamos falando sobre exemplos de conduta ética, que em nada se parecem aos discursos correcionais de certos pais, cujos filhos (não o eram, mas) já estão mal educados, maldosos; na verdade não agüentam o discurso do “faça o que falo”, e optam pelo exemplo que vêem em casa, e “fazem o que os pais fazem”. A moral pode ser diferente para cada povo, sendo ainda dinâmica, de acordo com um novo entendimento daquele povo. Hoje não tenho mais do que lembranças do véu que usava na missa, mas a ética, isto é, toda conduta e respeito que se deve guardar na missa, ainda é o mesmo. Uma pessoa ética não necessita leis morais, pois ela por si respeitará profundamente a si mesma, aos semelhantes, flora, fauna, e todo universo que a circunda, vivendo em harmonia. Tripudiações não lhe passam pela cabeça, porque ética está intimamente ligada à estrutura interna, é parte de seu caráter. Voltando àquela mãe do exemplo, que pena! Ela se ilude que ensinará respeito ao filho falando de respeito, mas ele não conseguirá aprender, por falta de exemplo, e será igual a ela, desrespeitoso que burla normas e leis, tratando as pessoas com desprezo e violência. Um antiético que está a um passo da infração delinqüente, basta um campo propício, e ele deslizará, mesmo sendo filho de “gente fina”. Percebemos estar numa confusão total de valores, pois aquela mãe dirá que sempre foi tão boa, honesta, trabalhadora, para ter um filho desses, que a maltrata na velhice, e possui valores que ela não reconhece, tão diferentes dos dela. Saiba, leitor, que quando vemos uma pessoa infringir alguma lei moral (rouba, mata, tripudia), é porque já rompeu com a ética antes e que não vimos. Agora podemos reaver a bússola para começarmos a pensar em ética. Aproveite as reuniões de sua pastoral para juntos entenderem alguns posicionamentos da nossa igreja católica, que são tão polêmicos, odiados por uns, considerados retrógrados por outros, mas discuta buscando a ética cristã, e a partir daí resgate a sua. Lembre-se de que o fim não justifica os meios, e boa reflexão.

Matéria publicada no jornal dia 10 de março de 2005

Recent Posts
Archive
Search By Tags
bottom of page