top of page

ANSIEDADE - APRESSANDO O RIO


Certa vez, estava na beirada de um riacho bucólico e um de meus filhos, na época com aproximadamente seis anos, encontrou uma madeira larga, e começou a agita-la na água como se fosse um remo, impulsionando a água para frente. Ao perguntar sobre suas intenções, ele me respondeu alegremente: - “Mamãe, estou ajudando a água a andar mais depressa.” Então andei um pouco mais adiante e percebi que após o “tumulto” da água agitada, o riacho corria seu curso normal, tranqüilo e alheio às experiências de meu filho. Estabeleço hoje um paralelo com a ansiedade, pois independente do que esperamos que ela faça, ela não faz. Muitas vezes estamos preocupados na maior parte do dia, quase todos os dias, esperando soluções que vão demorar meses até seu desfecho final, simplesmente querendo apressar o rio. Ficamos tensos enquanto não obtivermos o resultado de situações corriqueiras, do dia a dia. Parece que tudo precisa ter um grande grau de importância.Se um filho está com tosse, já estamos esperando que seja uma pneumonia. Há sempre uma expectativa de que o pior vai acontecer. Em situações normais, uma crise de tosse passaria sem maiores preocupações. Mas a pessoa tem a sensação de que não existe o normal, isto é, o que tem a ver com as normas, onde por exemplo, a tosse da média, é só uma tosse. A pessoa pensa no anormal, a tosse do filho é fora da média, e para pior, nunca para melhor. Com isso temos a tendência de olhar a vida com pessimismo e aquelas situações que requerem um pouco mais de dedicação já são os “bichos de sete cabeças”. Bem, ansiedade é uma emoção normal, a temos para nossa defesa, pois funciona para deflagrar dentro de nós a sensação desagradável de que algo não é bom em determinados ambientes ou situações, e daí tomarmos atitude por estarmos em perigo. Mas a ansiedade quando generalizada é um desperdício de energia, pois deixa a pessoa alerta o tempo todo, fazendo com que perca o foco do que realmente é importante. E chegam os sintomas preocupantes, algumas pessoas já acordam com dores musculares, resultado de tensão constante, ondas de frio ou calor percorrem o corpo, aperto no peito, dormência nas mãos, boca seca, enjôo, ou um aumento para evacuar ou urinar. Isso afeta o dia a dia da pessoa, e quando adquire proporções incontroláveis, a pessoa fica impossibilitada até para prover seu próprio sustento, pois tem dificuldade em iniciar ou em manter uma atividade remunerada. A pessoa foca seu pensamento no medo de que algo saia errado. Esse é o pensamento inicial da ansiedade. “Lá no fundo queremos ver o fim da situação, antes do fim. É que estamos esperando que o fim não seja bom, e que algo saia errado. E se sair errado, é pela nossa incompetência. Aqui chegamos ao âmago da nossa questão – insegurança.” A insegurança pode ter sido instalada na pessoa desde a infância, com reforços do negativo, e pressões para que a criança dê conta de algo para o qual ela ainda não tem maturidade, e não deu realmente conta, advindo o fracasso na empreitada. Como não podia deixar de ser, no ímpeto de educar aconteceu a repreenda, a pressão, surgindo o sentimento de que não sou bom o bastante. Esse padrão sendo uma constante na educação, vai gerar o inseguro e ansioso desde a infância. E em sessenta por cento dos casos ainda pode vir acompanhada de depressão. As pessoas ansiosas costumam dizer quando falam de si, que têm um defeito, são ansiosas. Mas ansiedade tem graus, pode haver a que faz parte do dia a dia, como defesa, até ansiedade generalizada, e não é um defeito, é um diagnóstico. Dependendo do grau, a pessoa deve procurar ajuda psicológica, inclusive psiquiátrica, mas como quero falar para a norma, digo para a média dos leitores, que você está querendo apressar o rio, e que isso não fará diferença alguma no resultado final daquilo que lhe causa ansiedade, mas lhe fará, sim, doença. O que faz a diferença são as suas atitudes reais naquilo que você pode, e a sua paciente espera nas situações com as quais você nada pode. Sem apressar o rio. Lidar com essa realidade é um exercício que como citei através de meu filho, começa desde a tenra infância. Será que naquele dia ele já percebeu que seu desempenho de nada adiantou ao riacho? Matéria publicada no jornal dia 10 de abril de 2008

Recent Posts
Archive
Search By Tags
bottom of page