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PATOLOGIA - O TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO


João tem sempre um pano de flanela dentro da pasta de serviço. Toda a manhã, ao chegar no escritório, passa o pano na mesa para retirar o pó, depois lentamente retira todas os objetos da pasta e os limpa alegando estarem com pó. Quando volta do almoço, percebe a mesa cheia de pó e novamente passa o pano. Ao chegar em casa, passa o pano em cima da mesa da sala, retira o pó e cuidadoso, novamente retira todos os objetos da pasta para limpar, pois foram usados naquele dia, e estão com pó. Fim da tarefa, percebe que os demais móveis da sala estão empoeirados, e aproveita que está com “a mão na massa”, e limpa o pó dos móveis. Só daí ele vai relaxar e interagir com a família. Bem, todos estão acostumados com João e sua flanelinha. No amigo secreto do final de ano, ele ganhou uma meia dúzia dos colegas. É claro que todos gostam dele, mas não perdem a oportunidade para uma piadinha, e a conversa geral é, que o rapaz é boa gente, porém, um pouco “esquisito”. Em casa a família o acha bastante detalhista e meticuloso, parece que tem alergia até em pensar a possibilidade do pó. A esposa se esmera em deixar tudo bem limpinho, mas mesmo assim, para ele não está bom.

O TOC está entre os transtornos mentais mais freqüentes, afetando uma em cada 40 a 50 pessoas, isto é de dois a dois e meio por cento da população. E não é uma doença recente, pois temos relatos de cerca de 300 anos atrás, mas foi só a partir de 1980 que surge o interesse médico pelo assunto. Segundo a Sociedade Brasileira de Psiquiatria, se inicia na idade adulta, mas também na infância ou adolescência. E os sintomas das crianças são muito semelhantes aos do adolescente e adulto, e por não ser tratada, sua duração é prolongada Um dado interessante – é mais comum em mulheres e a incidência maior fica com as pessoas separadas ou divorciadas, e desempregadas. Inclusive pode estar associada com depressão e transtornos de ansiedade, ou outras patologias. Mas, como são os sintomas do TOC? São comportamentos que se repetem,são desagradáveis, atrapalham no desenvolvimento escolar, no trabalho e na vida familiar. Por exemplo: a adolescente não entra no carro do pai sem antes bater o pe no estribo, sete vezes, pois teme que se não o fizer, acontecerá um acidente. A criança quer um número ímpar de beijos da mãe antes de dormir. A jovem passa horas lavando as mãos por acreditar que as maçanetas das portas estão sujas. O marido se certifica varias vezes antes de dormir ou sair,se os bicos de gás estão desligados, as torneiras fechadas. A mãe que não consegue tocar em objetos pontiagudos ou facas, temendo matar seus filhos. Essas ações sempre estão acompanhadas de pensamentos não desejados que retornam repetidamente a mente da pessoa – vou matar meu pai; minha mãe morre nessa noite; minhas mãos estão contaminadas; devo ter deixado o bico de gás aberto, vou machucar meu filho. São esses os pensamentos que deflagram a ansiedade. E a pessoa, ao cumprir esses rituais, sente algum alivio, mas ´é apenas temporário. O intuito é sempre o de proteger a pessoa do TOC ou a outra pessoa. É bom reforçar que esse indivíduo sofre bastante. Geralmente os portadores de TOC sentem vergonha de seus gestos estereotipados e repetitivos, e conseguem controlar e esconder seus comportamentos compulsivos e obsessivos dos amigos de escola e serviço. Como não procuram ajuda, quando o fazem, os hábitos repetitivos podem estar profundamente arraigados e vai ser bem difícil de mudar. Nós encontramos também síndromes (embora não a síndrome completa), associadas com outros distúrbios neurológicos, por exemplo, a de Tourette. Sempre que uma pessoa atribui poder a determinados objetos, é necessário prestar atenção, para faze-la refletir sobre aquele sentimento, e que perceba que é invencionice dela. Por exemplo: não é a camisa do time que ela veste enquanto o time joga, que dará a vitória ao time, e sim, o preparo e desempenho da equipe em campo. Ela não tem poderes mágicos só por usar uma camisa. Aliás, ela não tem poderes mágicos! Como tudo o que é detectado de início, pode ter maiores chances para tratamento e cura aquele que for diagnosticado mais cedo. Mas, geralmente quando o quadro é perceptível e a pessoa busca ajuda, faz-se necessário tratamento psiquiátrico e psicológico. Sem esquecer que será uma longa busca, e com muitas descobertas pelo caminho. Fique de olho em você primeiro, depois nos familiares, e boa saúde mental. Matéria publicada no jornal dia 10 de abril de 2008

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