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A AUSÊNCIA DOLORIDA DO PAI


No artigo anterior falamos sobre a necessidade da presença do pai para marcar e ferir o filho (transmitindo os conceitos de moral, ética, tradições, e castração simbólica da relação com a mãe; além de orientação para a vida, inclusive profissional). E que para não ser um processo sádico, onde o pai possa extrapolar, esse pai também necessitou passar pelo mesmo processo em seu desenvolvimento. Dissemos também que os pais estão ausentes da educação, pois se nos tempos antigos eles eram os responsáveis diretos por educar, agora, essa responsabilidade passou às mães. E as mulheres de alguma forma diminuíram a admiração dos filhos por esses pais assumindo para si qualquer tarefa relacionada a ensino. Diminuindo a relação com o pai da terra houve a diminuição da qualidade na relação da Humanidade com Deus, sendo substituída pela relação da Humanidade com os Bens de consumo, onde Deus não é tão necessário. Mas é a qualidade de Criador, que reflete no Pai Natural, se tornando a representação e a figura do Pai Divino, que vai garantir ao filho a liberdade, além da confiança em suas origens. E isso, caro leitor é o que nos falta nos dias atuais. Contudo, sem essa confiança, o que vem a faltar é a própria confiança na vida, dando lugar à necessidade de controlar a própria existência, mas um controle exagerado, de uma forma preocupada e ansiosa, característica da neurose obsessiva que se faz presente nos nossos tempos atuais. Cláudio Risé (Psicanalista italiano), afirma que a “sociedade sem pai” não faz idéia da agressividade caótica e coletiva sobre a qual está assentada. E que a sociedade procura então desviar essa agressividade com o que ele denomina de “técnicas-não-limitantes”. Explica sobre essas técnicas como uma desinibição erótica e sádica, através de todos os meios de comunicação, e qualquer publicação. Além disso, essa técnica utiliza álcool, tabaco, drogas em geral, com seus efeitos de atordoamento ou excitação; tranqüilizantes que possuem o efeito de anestesiar as forças vivas do indivíduo; alucinógenos com seus efeitos ensandecedores; televisão que tende a buscar um torpor hipnótico; uso do carro, com as relativas satisfações narcisistas fortemente regressivas ou sádicas; terapia do sono proporcionada pelas organizações de férias em grupo; evasões de todos os tipos. O sentido de tais “técnicas não limitantes” é fornecer satisfações narcisistas fortemente regressivas (eu = tudo), e por esse caminho atenuar a agressividade reativa de indivíduos, cuja imagem positiva de si foi destruída. Mesmo assim, a alma coletiva contemporânea não consegue resolver realmente o problema da agressividade, porque não aprendeu a transformá-la, por causa do frustrado confronto com o pai. Essa energia que se tornou destrutiva, não pôde ligar-se a imagens ideais positivas, a projetos de vida. E o futuro individual e coletivo não chegará ao “Reino do Pai”, vistos como realizações positivas do próprio destino. No entanto, o pai, em toda a história da humanidade, é o lugar afetivo e simbólico em que o homem aprendeu tanto a respeitar a norma quanto a transformar a agressividade. Segundo as conclusões finais de Risé, “somente o restabelecimento de uma relação significativa com a figura paterna pode, portanto, subtrair o indivíduo da sociedade ocidental, do labirinto perverso em que ele foi jogado, e restituir-lhe uma confiante orientação para a vida”. Por ter encontrado pensamentos valorosos este autor trouxe uma pequena síntese para reflexão sobre os vários processos de agressividade pelos quais passa a nossa sociedade moderna, pelo aumento exacerbado das vítimas de violência no Brasil e no mundo, e deixar a possibilidade aos que se interessarem pelo assunto, que se aprofundem, recomendando a você leitor, que leia mais no livro “A Inaceitável Ausência do Pai”, de Cláudio Risé, Editora Cidade Nova, SP, 2007 Matéria Publicada no jornal dia 10 de maio de 2009

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