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EDUCANDO UM FILHO


Às vezes tenho a impressão de que uma das tarefas mais difíceis é criar convenientemente um outro ser humano. Se olharmos como nascemos, o bebê é um indivíduo exigente e curioso, e sempre que possível, um explorador. Ele acredita ser o centro e sabe que tudo gira em torno dele. Se suas necessidades básicas forem atendidas, será um bebê feliz na medida em que sentir a segurança do afeto dos pais. Mas o surpreendente é que durante o seu desenvolvimento, os pais, no intuito de adequá-los à sociedade, vão transformando essas tendências iniciais, de maneira tal que poderíamos dizer :- ninguém escapa, todos temos algumas seqüelas educacionais. Essas seqüelas atrapalham, limitam, e muitas vezes desviam para longe e complicam os comportamentos dos filhos. Nos tornamos então adultos complicados e criadores de problemas. Veja leitor, a grande capacidade do Homus Sapiens Sapiens, (fonte de orgulho), é justamente poder pensar em várias soluções para um só problema. É trágico saber que não só não o resolvemos, como também de outro lado criamos vários problemas que podem ser insolúveis se não pusermos muita atenção e energia sobre eles. Por exemplo: -“O que forma uma consciência de que eu sou eu e você é você?” A resposta certa é que eu tenho experiências que você não tem, mesmo que estejamos vivendo no mesmo contexto histórico, familiar, social, e religioso. Então quero com isso dizer que as experiências pessoais, isto é, tudo o que vivermos nos dirá que somos o que somos. -“Bem, então o que eu vivo não serve para você?” -“Serve como conhecimento de que comigo foi assim, mas não necessariamente a mesma experiência feita por você sairá igual a minha. Lembra que falamos da curiosidade e ousadia com a qual nascemos? Pois é, por isso queremos e precisamos ter as nossas próprias experiências, não as dos pais.” Este é o ponto crucial da nossa conversa sobre educação de filhos. A gente quer passar nossas experiências e acreditar que isso será o suficiente para livrar os filhos de todo o mal, com a crença de que não viverão dissabores porque já os vivemos, sairão sem os sofrimentos das dificuldades da vida, e isso é tudo. Só que acabamos de refletir que não é assim, que ele será ele, e também ele não pode aproveitar as suas experiências. Ele não fará o que você fez. Mas que confusão, não é? Então qual a função dos pais ou educadores? - A conscientização -. Seria como se a cada situação de perigo, o assunto fosse abordado assim como se os pais fornecessem uma espécie de vacina, um antídoto para que os filhos possam reagir adequadamente perante a situação X quando esta ocorrer. Mas o filho terá todo o direito de experimentar viver também qualquer situação, pois só assim terá a possibilidade de tornar-se ele mesmo. E de que serviu a saliva toda que você gastou falando com ele? Serviu para deixá-lo mais esperto (sábio) sobre o assunto, possibilitando mobilização maior de recursos para sair-se bem. Mas não é indicativo de sucesso na empreitada dele. Poderá falhar apesar de tudo e ele poderá ralar o nariz ao cair no buraco, apesar de seu empenho. Criará um problema ao invés de livrar-se ou resolvê-lo. Qual a melhor saída para isso? Do meu ponto de vista, os educadores confundem educar com vingar e extravasar sua ira. Mas não é atitude inteligente porque não é educacional. Também é desaconselhável mostrar que são dotados de superpoderes, com as tradicionais frases humilhantes do tipo: Eu não falei? Agora, bem feito pra você. Essa frase não educa, não é solução, e o ser humano deve ser um expert em soluções não em críticas inúteis. O filho precisa sentir confiança nos pais, e as frases desse tipo provocam desconfiança, pois mostram um pai irado e infalível, o que faz tudo certo, e cá entre nós, ninguém é assim. MadreTeresa de Calcutá dizia que a coisa mais fácil que tem é errar. Quando você errar, seu filho estará lá e desconfiará de você. Diga simplesmente que nem toda experiência é bem sucedida, o importante é que o erro não deixe seqüelas irreversíveis, e que ele procure analisar todos os lados das novas situações, mas que deve viver, pois viver é também ousar inclusive ousar não acreditar nos pais ou em si mesmo. Eu encaro uma passagem do evangelho como uma manifestação maravilhosa dessa situação, que é uma cena vivida por uma mãe excepcional chamada Maria. Numa festa de casamento, ela percebeu algo que iria humilhar os noivos, segundo as tradições e costumes daquela época. Recorre ao filho, que do meu ponto de vista educacional (desculpem-me os teólogos) sentiu-se inseguro devido a resposta que deu a ela, do tipo - ainda não estou preparado. Poderia essa mãe ter humilhado o filho, respondendo como muitas que conhecemos – você não obedece, não serve para nada, seu pai faria bem melhor, molenga, medroso, etc. Mas, o que fez a sábia mãe? Tomou todas as atitudes que só fez aumentar a confiança que precisava sentir o seu filho. Não fez ela o sermão da montanha naquela hora, mas tomou atitude que direcionou seu filho para a conduta que seria, segundo ela, a mais adequada no caso em questão. Ela demonstra aqui não ser uma simples mãe entre outras, mas uma educadora real. Voltando ao início, educar é tarefa das mais difíceis, pois consiste em ajudar o outro a ser ele mesmo, enaltecendo o que há de melhor, e vacinando contra os possíveis perigos do viver. Sem diálogo e atitude não tem educação.


Matéria publicada no jornal dia 10 de maio de 2010

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