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PRESENÇA PATERNA -A MARCA DO PAI


Eu li um livro de um autor italiano, psiquiatra, Cláudio Risé, e gostaria de comentar com você um aspecto muito importante, o mais importante a meu ver, do desenvolvimento humano: dizer não aos filhos e ensiná-los a perder. O que me chama a atenção é que estamos vivendo o mundo do sim aos filhos, evitando o máximo possível as frustrações aos pequenos, para proporcionar prazer. Os adultos estão com medo de sofrer e querem afastar ao máximo o sofrimento da vida dos filhos. Em artigos anteriores, já abordei o fato do grande medo que sentem os pais em relação a perda do amor dos filhos. O pensamento: “Se lhe disser não, ele poderá me achar um chato, e deixar de me querer”. Outro pensamento: “Se lhe dou, deixa de me incomodar”. E também já comentamos sobre os valores perdidos pelas novas gerações, sem, no entanto, abraçarem novos valores nos quais acreditem realmente. Então temos uma educação permeada de dúvidas e de inconsistência. A educação ficou massificada. É cego direcionando cego, ninguém sabe por que faz, mas sabe que todos fazem assim, e pronto. Segundo Cláudio Risé, não é a mãe, mas o pai que necessita interferir para limitar, e esse ferir é que fará o filho mais forte. O pai que não fere profundamente, não deixa cicatriz e nem ferida, e com isso só consegue produzir revolta no filho, que injuriado, sente-se ofendido por esse pai e lança os mais variados tipos de protesto, por não ter conquistado o reconhecimento da dor do próprio mal, como dignidade. E sem a experiência da dor, não haverá a experiência de humano, o amor a si mesmo e ao próximo. Ambos forjados na perda. Mas para transmitir a ferida sem ser sádico, o pai necessita também ter sido ferido pelo seu pai que deverá ter exercido profundamente a paternidade. O pai que sabe ferir é o portador da ferida. Só assim poderá transmitir ao filho a sensibilidade e o sentimento dela, para saber suportá-la e captar seu significado. Trocando em miúdos, a ferida é a consciência da necessidade humana da perda. E ainda o autor acrescenta num outro momento, que a primeira ferida que o pai provoca é a separação da simbiose com a mãe. E nós sabemos que ausência ou prolongamento da simbiose com a mãe provoca danos emocionais ao filho. Mas aqui começa o primeiro impasse da modernidade, pois os filhos estão sendo poupados de sentirem a dor que os pais sentiram. E mais ao longo do livro, ele relata que as mães destroem a imagem dos pais, quando não o deixam participar da educação dos filhos, e quando deixam de admirar seu trabalho, pois o filho não vai querer ser igual a esse pai, iniciando o processo da falta de admiração, gerando a morte da autoridade do pai. Não se ama aquele que não se admira. Bem, esse tema, muito atual, entra em sintonia com um outro artigo também já escrito no nosso jornal, sobre a importância e a necessidade da presença do pai. Minha mãe dizia que meu avô conversava com os filhos só no olhar. Eles já sabiam o que o pai queria dizer e obedeciam. E dizia que nunca levou um só tapa dele. E os cinco filhos, pessoas do bem, amavam muito esse pai. Com certeza sua história, leitor, deve ser parecida com a da minha mãe, e outras também. Essa conversa nos leva agora a uma reflexão: Temos uma quantidade bem significativa de pais que não ferem os filhos, não acham necessário o filho sentir frustrações, ou porque não foram feridos, ou porque a mãe não deixa. E uma quantidade significativa de filhos que nem tem pai presente ou atuante. Daí se percebe que muita gente compõe o grupo dos não feridos, manifestando sua injúria, sentindo-se ofendidos e lançando os mais variados tipos de protesto. Quem vai feri-los? No próximo exemplar continuamos, até lá! .

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