PASSAGENS DE FINAL DE ANO
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omo é divertido observarmos nos finais dos anos a cena que sempre se repete, as pessoas esbaforidas e nervosas às compras dos presentes, do bacalhau e da castanha portuguesa, da lentilha, e das uvas, das romãs, e outros alimentos tidos como geradores da sorte para o ano vindouro A euforia tem sentido, vai nascer nosso menino Jesus, trazendo a paz tão almejada, abençoando os lares e as famílias; e vai mudar o calendário. Reunindo assim numa só vez novas bênçãos, e o grande desejo de vivermos algo bem melhor. Faz-se notória a necessidade manifestada no coletivo de uma interrupção, um fôlego, parece que ninguém aguenta mais viver aquele ano. Acabando um ciclo, mudam as expectativas, renovam-se as esperanças... Ah! Agora sim, vamos viver um ano legal! Desta vez teremos uma “suposta felicidade”. Nós seres humanos temos muita necessidade de passagens, de rituais. Poderíamos experimentar essa sensação a qualquer época do ano, afinal, todo dia é dia para o nascimento do menino Jesus em nossas vidas, e podemos renovar a cada dia as nossas esperanças em um futuro melhor, mas sozinhos, isoladamente temos poucas forças para conseguirmos. E não é por acaso que nosso Deus se faz nenê, e depois de uns meses sobe aos céus, todos os anos, por uma necessidade nossa em sentir a cada ano as mesmas emoções. Jesus não será maior por conta dessa nossa homenagem, nós é que a necessitamos para tê-lo mais próximo, para nos emocionarmos com Ele e para fortalecermos a nossa fé. Já era assim, antes quando dependíamos das boas colheitas, mas parece que ao cabo de 365 dias, estamos sentindo tédio, mesmice. Aliás, o ser humano sente bastante tédio, por isso inventam as diversões, os jogos todos, incluindo os bons e os menos aceitáveis, como falar do outro, por exemplo. Igualmente nos deparamos com a mesma cena, quando ao cabo de um ou dois meses transcorridos daquele ano novo que seria tão vindouro, as pessoas continuam as mesmas, tudo igual, o que é natural. Acontece que ninguém pensou numa proposta de mudança verdadeira. Foi desejo sem ação, e não se obtém algo novo com os mesmos comportamentos rançosos de sempre. Por que? Não dá pra desconsiderar que mudar dói. E a gente quer mudanças, mas sem dor. “Se Deus for meu amigo, eu não preciso fazer nada para ser feliz, Ele faz. Nesse pensamento, o mundo deveria mudar, as pessoas deveriam mudar, afinal - O OUTRO É QUE É O MEU PROBLEMA! Eu estou bem, e me deixem com os meus vícios de caráter, com o meu “mau gênio”, com a minha falta de educação, porque eu sou assim mesmo, e não faço mal a ninguém”! Parece que sempre queremos ficar no nosso prazer, ganhar o melhor, nunca abrir mão, pois se livrar de algo, nem que seja meleca, mas que é nossa meleca, gera a sensação de perda. Uma vez eu li em um e mail que você pode ter duas opções: ter sempre razão, ou ter uma esposa. Mas como é ruim admitir que às vezes o outro também tem razão, não é ? A gente sempre quer o melhor de todos os mundos, mas não é viável pois deixamos ao outro o pior de todos os mundos, seja o mundo profissional, financeiro, afetivo, emocional, racional. Por isso tantas discussões entre os humanos. Exemplos de “anti razões -
O filho não se esforçou nos estudos, é retido, e os pais procuram brecha no sistema para que ele siga como aprovado, pedindo reavaliação, mudando de escola. Selando assim a história do filho –“não precisa dar o seu melhor porque papai e mamãe estão aqui e resolvem tudo para você”! Responsabilidade por seus atos?” Ah, o menino é novo, mais para a frente”... Tem os negativistas que dizem – “eu sei, mas é muito difícil, eu não consigo”! Não é incomum o que diz – “é bom para o meu irmão, a mim não”. Bem, para tudo deve haver energia, determinação e garra. As pessoas duras na queda sempre serão mais bem sucedidas, persistem e procuram seguir dentro de mais disciplina. Para essas, não é necessário comer bacalhau, e levar grãozinhos de romã na carteira. Algo só é impossível até que alguém duvide e acabe provando o contrário. Prove o contrário do que afirma, diga que conseguirá fazer algo a mais. Não espere mesmo que as circunstâncias mudem. É falsa crença atribuir a elas o cerne dos problemas. A situação é sua, é com você, irmão. Você precisa decidir o que quer, e se quer ser feliz precisará de mudanças para obtê-la, pois do jeito antigo, do ano passado, não funcionou direito. Alguém estará pensando que essa conversa é coisa de psicóloga e dizendo para si que –“ é dolorido demais mudar, a gente se expõe, bate de frente com os outros, erra, mostra que não sabe, mostra as nossas fraquezas e com isso a gente sai por conta própria do pedestal da onipotência, e pode ser que as pessoas não nos queiram mais tão bem, que nos achem chatos”... A melhor coisa que tem é a nossa humanidade e pequeneza, pois assim nos dignificaremos as pessoas respeitam os que sabem pedir desculpas e os que sabem assumir as consequências por seus atos. Força total nos motores aproveite que agora você está motivado! Precisamos ser heróis da nossa história, construí-la, senão outros construirão, e seremos vítimas da história deles, mais um ano. E estaremos ansiando para que 2011 acabe correndo! Se não tiver disposição para mudar e se sentir infeliz neste ano, ninguém poderá ter disposição e mudar por você. E não culpe Deus por isso, somos nós que fazemos da vida o que ela é. Um ano repleto de mudanças para uma felicidade maior!! Matéria publicada no jornal dia 10 de fevereiro de 2011