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AGRESSIVIDADE


Estava refletindo sobre a agressividade a pedido de uma colaboradora do jornal, pois esta me dizia que a violência das crianças e adolescentes nas escolas vem crescendo em proporção e intensidade avassaladora. Quando então duas perguntas me passaram à cabeça : – Todos seriam violentos, então, nascemos violentos, ou aprendemos a violência, portanto nem todo mundo é? E eu, você, leitor praticante do catolicismo, somos violentos? Indaguei algumas pessoas sobre suas possíveis violências, e percebi como nos enganamos sobre esse tema, principalmente no que diz respeito ao juízo que fazemos sobre nós mesmos. A primeira situação que nos vem ao pensamento é a de que nós” não somos os agressivos”. Então fui buscar em Carl Gustav Jung (psiquiatra) algum embasamento teórico para entender melhor o que somos. Segundo Jung, existe um instinto maior que todos, que ele denomina de máster, que nada mais é do que a necessidade de dominar o meio circunvizinho”. É inato, e ele nos leva a dominação e a aprender como fazer essa dominação. Jung também afirma que essa necessidade de dominar é pouco falada, aparece com menos intensidade na literatura e no meio psicológico, porque se evidenciou o "aprender como fazer para dominar”, que são os mecanismos de defesa, isto é, as nossas ações que podem ser concretas ou em forma de pensamentos, a procura do prazer que o dominar nos proporciona. O fato é que esse comportamento opera desde cedo na personalidade do indivíduo, quando passamos pela fase do egocentrismo, e acabamos por fixar um certo egoísmo, isto é, interesses que nós temos por nós mesmos. E daí para a frente queremos sempre “puxar a brasa para assar a nossa sardinha”. Percebi ainda que no senso comum, como defesa, costumamos fazer umas associações da violência, que não correspondem à verdade, como por exemplo, não existe uma mutação de amor para ódio, pois o ódio não é um amor negativo, ele tem a sua origem própria. Enquanto o amor provém da vida sexual, o ódio provém da luta do eu pela sua conservação e afirmação, conforme estamos observando no texto. E a violência é a manifestação proveniente dessa agressividade exercida sobre outrem, e são tendências da pulsão agressiva (impulso que leva, no caso, à morte) gerando comportamentos que podem ser reais, ou fantasmáticos que visam prejudicar o outro de alguma forma. É de fato real se concretizamos uma ação para prejudicar o outro, destruí-lo, constrangê-lo ou humilha-lo. Portanto, matar por paixão, odiar por amor, bater por amar (mesmo que seja seu filho), lavar ou defender a honra, são desculpas que a agressividade encontrou para poder manifestar-se e ser parcialmente aceita socialmente. Quero incluir também no elenco aquelas nossas atitudes grosseiras, que submetem muitas vezes nossos subordinados, atitudes preconceituosas ou racistas, e até mesmo quero estender às questões de separações dos casais, cheias de constrangimentos e humilhações de um para o outro, arrastando os filhos nessa enxurrada de atitudes violentas. Podemos ainda falar da violência que é a rejeição, o menosprezo de uma pessoa por outra, e de quantos filhos são rejeitados e menosprezados por um dos pais. Podemos estender, lembrando que nada dói mais do que ser ignorado pelo outro. Se um amigo nos ignora, constantemente o fato nos vêm à cabeça, é difícil entender e aceitar. E quantos são ignorados pelo Estado que os deveria amparar dando simplesmente oportunidades e condições de competição com dignidade . Acabo de ler que 500 empregos de costureira deixaram de ser preenchidos numa região do nordeste, porque a empresa quis registrar as mulheres, mas elas não quiseram o emprego para não perder a bolsa família. Olha lá, a nossa violência contra essas mulheres, agora acomodadas e sem perspectiva de competitividade e dignidade. Nós as condenamos e as congelamos violentamente a não terem sua dignidade e a assumirem conscientemente o papel de esmoleres. Isto não é uma crítica, leia como uma constatação. O que Jung chama de fantasmáticos é igualmente nocivo e tão violento quanto, pois vai desde a recusa em ajudar uma pessoa necessitada, ou fechar a janela do carro na face de um pedinte, ou parar seu carro em fila dupla na porta da escola, até chegar às sutilezas da ironia, onde sentimos um "alfinetadinha". (Já repararam como o Jô Soares trata jocosamente seus convidados, e como o Faustão fala denegrindo os gordos, só para fazerem gracinha()) Estamos tão acostumados... que também fazemos! Estamos acostumados também à violência urbana, em todo o seu contexto, pessoas marginalizadas, discriminadas, com poucas chances no mundo capitalista e consumista, e de outro lado, pessoas querendo “controlar o território”, se utilizam de mecanismos de defesa, como por exemplo, a propaganda de que precisamos consumir muito e ter tudo, inflando a inveja dos que não podem ter objetos, fatos e situações de um mundo fantasioso e paradisíaco, onde a satisfação e o poder imperam. Interessante como não nos damos conta que também fazemos parte dessa energia agressiva que lançamos aos ventos, e da inveja que instigamos pelos quatro cantos da pobreza. Essa gente marginalizada também quer dominar, só lembrando. E nossos filhos se banham e se impregnam, mais que ninguém das nossas (real ou fantasmáticas) atitudes, palavras e pensamentos violentos....Perdão Pai, porque pecamos por pensamentos, palavras e ações agressivas...a todo momento. Não podemos esquecer que temos no impulso de morte, a tendência à autodestruição, que é mais uma forma de agressão, que se manifesta na melancolia, sentimento de culpa, tentativa de suicídio. Então a violência chega na escola, surge em pauta o bulling, as agressões aos professores, e nos espantamos perguntando onde foi que nós erramos. Atribuir à globalização , horas, agora é moda mesmo! E acusamos: - “Foi ela, foi a TV, foi a internet, foi o mau caráter do meu vizinho”! E nunca fomos nós, nunca fui eu, nunca foi você! Tudo isso porque queremos dominar o território...E sabem por que queremos dominar o território? Porque queremos ser senhores dos nossos domínios. Donos do nosso corpo, , e da situação como um todo, donos do mundo. E enfim, é isso. .Penso ser desnecessário responder aquelas questões iniciais, pois as conclusões são óbvias, cada um, a cada tempo, vive uma ou mais situações onde demonstra sua agressividade, ninguém escapa, e quem diz que não é, não se conhece. Ou mente. Quanto a violência nas escolas, faremos uma reflexão em conjunto com você, leitor, participe, e mande seu pensamento sobre isso, para o e mail niciatavares@hotmail.com. Eu vou esperar você para "co-escrevermos" esse assunto. Matéria publicada no jornal dia 10 de julho de 2011

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