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UM VULCÃO QUE NÃO EXPLODE, MAS SOLTA FUMAÇA


"Toda doença, é, em última instância, uma tentativa frustrada de cura emocional” Carl Gustav Jung Uma pesquisa que realizei no livro” A Doença como Símbolo”, de Rudiger Dahlke ( médico, alemão), me fez querer compartilhar com você amigo leitor, as minhas impressões e o perfil que ao ler, tracei, de um adolescente com potencial para adoecer, o desenvolvimento da doença no adolescente, e sua instalação no adulto, para nossa reflexão do mês. Ponha atenção, pois você pode ser também um portador dessa doença, que elegi manter sem nominá-la de início. Nosso personagem fictício, Pepe, é um adolescente que, tímido, se sente inadequado, não sabe bem como se comportar socialmente, como falar, onde colocar as mãos, como responder corretamente ao ser inquirido, como levantar temas para conversar, ou para paquerar as mocinhas. É lançado obrigatoriamente ao mundo apesar de seus receios, e desde cedo estabeleceu uma comunicação social truncada, tímida e insegura . Sempre que possível, ele optava por fugir das reuniões sociais, pois seu grande desejo era esconder-se em seu íntimo. Mas quando escapar não era possível, ele interagia, porém sentindo-se altamente pressionado, claro que por ele mesmo. O mecanismos que mais acabava usando para compensar a insegurança, as incertezas, e a insatisfação que causa muito mal estar, era forçar um personagem para ele interpretar, que fosse aceito socialmente, uma espécie de disfarce, porém, não era ele. O tempo segue, ele optou pelo estilo, - o resmungão- como uma necessidade de afirmação do si mesmo, e construiu assim, uma imagem artificial do seu ser adulto. Eis o adulto que, como que se recompensando, inicia o processo de superestimação de si, e resmungar sempre foi, é e será sua marca. Age assim para buscar o apoio social, por ter ânsia em aventurar-se neste mundo vasto e grande, e não o faz porque teme. Não manifesta agressividade por medo em se colocar, porém como resmungar é uma forma de manifestação, então pode exercer a sua agressividade, inclusive contra si mesmo, fazendo assim um crônico estado de guerra declarado, ele com ele próprio, tendo como pretensão, que esse mau humor agora instalado, mesmo não sendo seu natural, lhe traga algum tipo de poder, destaque, notoriedade, importância. Nota-se já solidificado um sofrimento em Pepe adulto, porque além de fazer um distúrbio no contato, onde não se coloca, não vive seu EU, também por tabelinha, pelo trabalho e desgaste que os contatos lhe dão, interagir não traz prazer, e existe uma minimização no prazer que os contatos comumente trazem às pessoas. Como a gente vê, tudo começou na adolescência, foi tomando corpo e agora adulto, eis aí, o nosso homem, transformado nessa pessoa, um vulcão que não explode, porém, solta fumaça. Ele fez uma doença por cima desses sentimentos emocionais, porque precisava de um apoio mediante tamanha insegurança, causadora de angústia, lá no início da adolescência. E ao ser inquirido na fase adulta sobre a sua doença Pepe afirma consciente que sim, a tem, a usa, porém, não lembra por quais insatisfações, não sabe como e nem porque a adquiriu, tampouco se ainda é ou não portador das angústias originarias. Bem, você que acompanhou o relato do” jeitão de ser de Pepe” já sabe sobre qual doença estamos falando? É o vício do fumo, Pepe fuma desde a adolescência, pois foi a maneira que encontrou para dissimular o nervosismo que sentia por todo aquele quadro.. O interessante é que acabou obstruindo os seus pulmões, que são o contato, a comunicação e a liberdade, e comprometeu seus vasos sanguíneos, as vias de transporte da força vital, segundo Dahlke, e viveu desde então a enevoar-se, esfumar-se, iludir- se ou a alguém com a “fumaça azul”,” fumar muito para nada”, “som e fumaça”. Ele anda na contra mão de tudo aquilo que mais necessita, desobstrução nas relações, no contato, na comunicação. Sua agressividade contra si o coloca na crônica guerra da bronquite, ele admite que a tem, mas continua guerreando, sabendo-se perdedor, inclusive provocando uma elevação geral dos riscos, para praticamente todos os tipos de câncer. Pepe deveria ter sido carinhosamente orientado pelos adultos da família, mas teve de se arranjar sozinho, porém se você tem um adolescente em casa, pode ajudá-lo a superar o início sofrido do seu crescimento, atentar para as suas necessidades, para que consiga um desenvolvimento mais harmonioso. E se você é um fumante, provavelmente nem lembra mais porque tudo isso começou, podendo até já ter superado alguns desses itens, mas mesmo assim, vale a pena uma revisão, uma auto análise. Pode ser que lá bem no seu” fundinho”, você se reconheça um pouco em Pepe. E aí vai a sugestão de Dahlke para a remissão do ato de fumar, que tantos gostariam de eliminar. “Reconheça seu problema de comunicação e o assimile, descubra outras possibilidades de encontrar apoio, agarrar-se, você tem as pessoas em vez de uma haste em chamas, envolva-se realmente com a vida. Viva você mesmo, com coragem, aquilo que vê simulado nos comerciais de marcas de cigarros, descobrindo o gozo para além do fumo. Descubra o cigarro como instrumento de fuga e abra-se para caminhos de retiradas menos perigosas, buscar outros caminhos para” soltar fumaça”. É necessário reconhecer a agressividade e produzi-la na necessária discussão com o meio ambiente. Procure “descortinar” ao invés de enevoar, aprender “a ver “o véu do vapor azul. E conscientemente crie um espaço para sonhos e para alçar voos. Deve dar crédito e importância para as suas próprias necessidades, que é aquilo que você busca no fumar, e percorrer caminhos de satisfação que o façam feliz.” Eis aí a orientação, mas só para finalizar tenho que dizer, precisa arrumar a base antes, para eliminar o vício depois. Fumante, não basta querer parar de fumar, faz-se necessário uma pausa para trabalhar seus pontos fracos, e aí sim, não necessitará mais parco e ilusório apoio. Acabe com a guerra declare paz, a serenidade do Senhor a si mesmo. Matéria publicada no jornal dia 10 de novembro de 2011

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