top of page

EDUCAÇÃO - ENSINO PÚBLICO. QUAL A LÓGICA DO SISTEMA?


Ensino Público no Brasil- Qual é a lógica do sistema? “Armas químicas e poema, qual é a lógica do sistema?” (Engenheiros do Hawaí)

Da convivência com o professorado, despertou em mim o desejo de repartir com você, leitor amigo e inteligente, uma inquietação que pode ser sua também – professor e aluno no ensino público do Brasil. Quem é o professor? Entendo que é o que professa, e só professa aquele que acredita. Então, o professor, antes de mais nada é um convicto de algo, detém uma paixão, um assunto no qual se especializou. Não é uma especialização que te faz um convicto, mas sim, uma convicção que te faz um buscador, especialista do assunto Os nossos professores do ensino público, muito diferente do que a vã filosofia popular possa inferir, são pessoas muito bem capacitadas ( São Paulo). Pessoas concursadas com exame seletivo com alto grau de dificuldade, pessoas graduadas e especializadas, engajadas e convictas de que a educação pode revolucionar um país, e a falta dela pode deixá-lo na mesmice da involução. E trabalha até quarenta horas semanais. Quais os recursos de que dispõe?

  • Algum material escolar fornecido pelos órgãos governamentais, livros sem boa qualidade, pois as licitações e aprovações sempre acabam tendenciosas ao governo e não aos estudantes, material que os professores individualmente submetem a revisão. Neste ano são apostilas, inclusive com erros ortográficos.

  • A garantia de uma alimentação razoável e regular, para que o aluno consiga prestar mais atenção na aula do que na sua própria fome.

  • Código de normas a serem cumpridos com condutas e procedimentos profissionais e burocráticos.

  • Ele mesmo, o professor, que se formou e reformou de acordo com seus próprios recursos externos e internos.

  • Um ambiente, um prédio de conservação as vezes precária, mas que fica mais adequado com arrecadações fornecidas em festas graças ao empenho do corpo docente e da comunidade local.

Cabe ainda ao professor estimular, motivar os alunos para que estes sejam aprendentes interessados, necessitando provocar a inteligência dos alunos através de questionamentos, perguntando e duvidando do que já está aí. Segundo o psiquiatra Augusto Cury, “ os professores, incluindo os pedagogos e os psicólogos da educação, são sacerdotes da inteligência e, portanto, os profissionais mais importantes da sociedade, e a escola é o lugar mais sagrado”. E o aluno, quem é? Percebemos que o adolescente, ou o jovem hoje não é um engajado, está conformado com o sistema social do adulto, e longe de ser contestador, é no máximo, um revoltado, rebelde sem causa. Quer tudo para ontem, sem tolerância à frustrações, e não aprendeu que deve trabalhar para conquistar seus objetos e ideais. Os acontecimentos divulgados pela mídia nos últimos tempos também demonstram que eles não tem um EU fortalecido, são seres de estrutura emocional frágeis que reagem impensadamente e com violência inclusive. Não incorporaram autoridade, mas são autoritários, até tiranos. Muitos de seus pais estão ausentes, buscando a sobrevivência ou simplesmente o comodismo, motivo pelo qual são soltos e recebem e cumprem poucas ordens. Alguns parecem desiludidos, e como mecanismo de defesa, costumam se” blindar”, respondendo com apatia aos estímulos externos, nada os encanta ou desencanta, para não deixar entrar a dor de ser sempre frustrados. Mas a blindagem impede também que entre o saber, são crianças alheias ao aqui agora, que “contam as mosquinhas no teto”. E também se nada entra, nada sai, não criam. E acompanha uma agravante, eles têm poucas oportunidades em apreender um mundo mais abrangente, pois acabam limitados ao seu entorno, que quase sempre reflete o descaso público com as pessoas, nada tendo a oferecer quando o assunto é extra, como esporte, lazer, cultura, ou qualquer diversão.

O que o ministério da educação espera dessas crianças? Se a geração a que nos referimos, é indisciplinada e busca satisfação através de fantasias, mundo mágico de álcool e tabaco logo aos doze, treze anos, não têm ideal, também não podem ser incentivadas pelos professores. Não como antigamente, quando se tinha esperança em um mundo melhor para quem estudasse, fosse detentor de cultura e saber. Hoje, a apologia pessoal e ênfase financeira é dedicada aos jogadores de futebol; a veneração ideológica é feita aos cantores, atores, que nem sempre dão os melhores exemplos. Recebem aprovação automática, o que deve despertar nossa atenção especial, pois só não se exige competência de quem não se acredita que seja competente. Não exige excelência nos trabalhos apresentados de quem se acredite seja um aluno mediano. Se o aluno não demonstrar de alguma forma que realmente aprendeu para si conteúdos de vida que lhes foram passados, e mesmo assim puder continuar no faz de conta que apreendo, parece a mim uma demonstração de que o Estado não acredita no aluno, ou não quer que o aluno acredite em si. Quebra de autoestima produz indivíduo inseguro, falta de cobrança só ocorre quando o assunto não é importante, então a insegurança aliada a falta de importância dele, no que ele poderia fazer ou saber produz indivíduo desengajado, indolente. O professor precisa se contentar com o aluno ruim ou mediano, e não com o bom ou excelente aluno. Qualquer incidente ou cobrança mais objetiva por parte do professor, pode desencadear uma ação jurídica, pois se o professor, cansado, avisar pela terecira vez o aluno para não atender o celular enquanto estiver na aula, se guardar o celular desse aluno na quarta advertência até o final da aula, é processado pelos pais do aluno. O professor sempre perde mediante ameaças e vandalismos objetivos do aluno. Precisa fazer andar o sistema, aprovando seja lá como for o incompetente, o procrastinador, o revoltado que responde agressivamente, desestimulando inclusive um suposto aluno mediano ou bom. Vão aqui umas perguntas, um questionamento. Então, será que o currículo escolar é condizente com a realidade atual? O aluno estuda o que necessita saber, ou isso tudo é supérfluo, deixa para lá, não tem mesmo que cobrar.. Espera-se que o professor deixe de professar e seja continente dos conteúdos psicológicos que emperram o aprendizado desses aprendentes? Professor com excelência no conhecimento e desempenho ético, e aluno medíocre desacreditado. Qual é a lógica do sistema? Matéria publicada no jornal dia 10 de março de 2012

Recent Posts
Archive
Search By Tags
bottom of page