top of page

DO DESEJO AO DESDÉM TODAS AS ETAPAS FORAM CUMPRIDAS. E AGORA?


Júlio entra esbaforido, nervoso e com a mala de viagem porta adentro, da casa dos pais. --- Não dá mais, acabo de me separar da Joice. Ela está insuportável, intratável. Definitivamente, não consigo mais viver com ela. O pai: Mas eu nem acabei de pagar sua festa de casamento. A mãe: Você tem que pensar em dinheiro nessa hora! O pai: O que aconteceu, afinal? Foi o papagaio, o carro, o ciúme, o vestido curto dela, minha camisa mal passada, o diálogo que acabou, minha viagem de negócios, o desamor instalado, sei lá! Somos estranhos, dormindo juntos. Não dá mais... O pai: Tudo bem, durma por aqui mesmo hoje, amanhã a gente pensa melhor na vida. Nem sempre os casamentos são dissolvidos por conta de motivos banais. Mas podemos dizer que o real motivo fica para trás, e dá lugar então à falta de disponibilidade que um tem com o outro, intolerância e a dificuldade para aceitar as diferenças, tornando então a convivência algo difícil e ruim, deixando cada vez mais estreita a via do entendimento. Por essas e outras, o filho ou a filha retorna ao lar, trazendo na mala, além das roupas uma terrível sensação de fracasso. O pai que pensava ter cumprido essa etapa e criação do filho e que reinaria tranquilamente em seu lar, defronta-se com outra realidade. A mãe, muitas vezes passando pela síndrome do “ninho vazio”, vê a possibilidade de preenchê-lo novamente, e acredita, com isso curar sua angústia, exercendo novamente a função perdida para outra mulher. Triste, porém, contente, aceita o filho, mas tem mais relutância quando se trata da filha. O filho ou filha reinicia sua vida, agora sem os compromissos de marido ou mulher, anteriormente assumidos, com o total apoio da família. Casar implica muitas responsabilidades, e nem sempre há amadurecimento para tal, vem a perda, frustração, raiva, “prato cheio” para fazer doença. Superar as perdas causadas pela separação pode levar a desenvolver depressão, e com a família, sair desse quadro fica mais fácil. Porém para se tornar um indivíduo, precisará abandonar novamente esse ninho, assumir-se totalmente, abraçar suas responsabilidades, e até a herança do casamento acabado, resolver seus problemas, buscar respostas únicas, pessoais. Pessoa sensata é forjada pelo amadurecimento que trás a questão de lidar com suas faltas, com as frustrações e com os fracassos. Passar a “mão na cabeça” dos filhos nem sempre é inteligente, principalmente se desencadear alguma dificuldade para adquirir ou readquirir auto confiança e fortalecer o desejo de dependência. É preciso deixar que esses filhos cresçam, ao sabor das suas próprias escolhas.

Um dado muito importante. Uma pesquisa recente sobre o recomeço após as separações, observou que por terem que lidar mais com a criação dos filhos, responsabilizando-se mais por eles, e por gozarem de menos privilégios por parte dos pais, em especial a mãe que se sente ameaçada em seu domínio, as mulheres que se separam tornaram-se mais independentes do que os homens na mesma situação, sendo mais produtivas, maior nível educacional, desenvolvendo carreiras profissionais de sucesso, e adquirindo autossuficiência numa proporção maior que a dos homens separados.

Matéria publicada no jornal dia 10 de junho de 2012

Recent Posts
Archive
Search By Tags
bottom of page