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MÁSCARAS


“Como as pessoas são admiráveis quando as conhecemos só superficialmente” (Millor) -“Fique sentadinho, não corra na festa”.” Que feio, menino bonzinho não sente raiva”. “Assim você deixa a mamãe magoada...” Podemos elencar a quantidade de aconselhamentos que fazemos para as crianças, no intuito de transformá-las a partir de um ser natural, para um ser social. É um aprendizado constante, as situações que se apresentam no cotidiano as vezes são fortes, havendo bastante desgaste para o educador e o educando. São tantos momentos de tensão e ansiedade, produzindo estresse várias vezes. Essa situação perdura por anos a fio, e vamos combinar, aprender os comportamentos sociais não é fácil. É para isso o direcionamento, o limite. Na verdade o que esperamos é que a situação repreendida não volte a se repetir, e se isso ocorrer ficamos bem, e nem sempre nos damos conta de como a criança faz essa aquisição; se de fato entende, controla, domina ou simplesmente disfarça o objeto a ser apreendido. São tantas as ordens e mandos que nem sempre ela dá conta de entendê-los, mas para se sair bem com os pais, ela pode utilizar recursos internos , que espontaneamente veem em seu socorro - os mecanismos de defesa emocional. É quando lança mão (inconscientemente) da utilização de máscaras, para enfrentar o mundo. Uma adaptação do indivíduo àquilo que é coletivo. A essas máscaras C.G.Jung (psiquiatra) dá o nome de persona, que vem do latim, utilizado na antiguidade clássica para designar uma máscara usada pelos atores no palco ao representarem personagens diversos. A máscara é o “EU” que mostramos às outras pessoas, e de acordo com a situação física ou social, a pessoa cria e utiliza a máscara. É um aspecto da personalidade que se encontra dentro da própria personalidade, como se fosse uma sub personalidade que gira ao redor do Eu. É um conjunto das funções e das atitudes psicológicas ligadas à relação entre o EU e a sociedade, o EU e os outros, o EU e o inconsciente. Ela é uma representação, uma espécie de atuação, como a de um artista, que “aparenta” uma individualidade procurando convencer os outros e a si mesmo que é uma individualidade, quando na realidade não passa de um papel, de uma encenação. Ela é relação do indivíduo com o mundo e com os outros, mas não é relação consigo mesmo. Todos desenvolvemos essas máscaras, de alguma forma, e no decorrer da vida, muitas personas serão usadas em momentos específicos e várias personas podem ser combinadas ao mesmo tempo. Isso vai ajudar a pessoa no sentimento de adequação social. Por exemplo, uma mulher muito sensual ao se casar poderá esconder-se atrás da persona da “gorda desajeitada”, pois assim não oferecerá perigo ao seu casamento, ou ao casamento das amigas. É interessante e fácil notar as máscaras nos adolescentes, pois eles literalmente são duas pessoas, uma com os pais (rebeldes, mal-humorados, infantis, dependentes), e outra com os amigos (interessantes, amáveis, adultos, engraçados, independentes). Também podem fazer um personagem na escola, de o mais popular, o galã, o engraçadinho. A vida pública exige que se crie uma persona pública, que é definida pela posição social, pela profissão. O médico necessita dizer que está saudável, o filósofo não pode ter o gosto igual ao da massa, o psicólogo precisa aparentar ser centrado, o dentista precisa ter belo sorriso, o vendedor precisa ser simpático, o cantor cantará e dançará no palco apesar de qualquer dor, e assim por diante. Todos exibirão um controle, mas a custa de quê não se sabe, podendo ser desde compreensão do conteúdo e mudança real de comportamento, até material reprimido e dissimulação. Exemplo: Eu não roubo porque não quero o que não me pertence, ou porque eu não quero o que não quero ser preso. Socialmente os dois não roubam, mas um criou uma persona para disfarçar o desejo de ter o que é do outro. Quando houver uma aceitação, assimilação e uma mudança de comportamento, a máscara será bem parecida com a compreensão do Eu, do indivíduo, porque precisa disfarçar pouco, e como tal, ela não é patológica; mas passa a ser patológica se for material reprimido e estiver na sombra (nosso lado inconsciente oculto),ficando distante do Eu e sem máscara, esse Eu seria irreconhecível. Por isso, as vezes alguém íntimo do indivíduo tem uma queixa muito grande dele, só que socialmente, para todos, ele aparenta ser bem “bacana”. Contudo, o mais triste é que a próprio indivíduo pensa que é bem bacana, se “acha” bacana também, pois não tem noção da sua real imagem (imago). É como se a máscara estivesse grudada. Esta reflexão, caro leitor, tem o objetivo de fazer com que pensemos sobre nossas máscaras, as que temos usado durante os anos idos, as que estamos utilizando agora, fazendo uma pergunta simples: Por que uso essa máscara? Sou mesmo Eu? E só ao tomar consciência da própria persona é que o indivíduo pode libertar-se da mesma. Então observaremos quem somos, e muitas vezes perceberemos que atribuímos muitas situações que produzem mágoas, afastamentos e separações aos outros, mas que na verdade dependeram da nossa atuação, do nosso verdadeiro Eu, que não é tão bacana assim, não somos tão bonzinhos como pensamos, e nem somos a vítima. Por isso, numa história, quando ouvimos os dois lados, parece que ambos estão certos. Mas as pessoas falam de si do seu verdadeiro Eu, ou da sua persona? Jung dizia que não escreveria sobre si mesmo, pois com certeza, ocultaria muita coisa da sua vida, a parte pior, o que ele gostaria que ficasse debaixo do tapete, e que os outros sim, poderiam escrever sobre ele, aquilo que viam e percebiam. Peça a um parente para fazer uma biografia resumida sobre o seu comportamento e depois perceba se você se reconhece. Faça você a biografia de algum parente e mostre a ele, para apreciação da mesma. Exercite retirar as máscaras. ”Só podemos ter uma existência verdadeira a partir da libertação dessas máscaras.”

Matéria publicada no jornal dia 10 de outubro de 2012

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