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BEBER, CAIR E LEVANTAR, SERÁ QUE DÁ?


“Em nossos lares temos muito mais bares que altares” Içami Tiba Visitei certa vez um alambique na fazenda Muricana, e entendi o processo do destilado. Não é segredo, mas é lindo, o vapor passeia por caninhos de cobre e se transforma em gotas que caem uma a uma lentamente. A Muricana era forte em "pinga" naqueles tempos da corrida do ouro, quando saíam os carregamentos de ouro e pedras preciosas de Ouro Preto para embarque em Parati. Poucos séculos nos separam dessa fabricação romântica do que vi ano passado viajando pelo interior de São Paulo, quando passando por uma cidade, perguntei: - "Aqui tem usina de petróleo da Petrobras?" -"Não, isso tudo é tonel de cachaça, estamos em Pirassununga.” (risos) -O que? Respondi perplexa frente aos vários silos mega enormes lotados do produto outrora de fabricação artesanal. E como desconsiderar essa produção agora em massa? Por que tanta pinga? Bem leitor amigo, estamos frente a fabricações e consumos desmedidos porque de alguma forma, o consideramos interessante e necessário para escoar a produção desmedida do capitalismo gerando muitos lucros e impostos equivalentes. Por outro lado, sabemos que o álcool no Brasil é responsável por mais de 60 % das separações das famílias, é o responsável pelo maior número ( mais de 60 %) de homicídios, por brigas em bar, e sabemos que é o responsável por mais de 60% dos acidentes de carro. E que a cada cem pessoas que ingerem álcool, trinta delas estabelecerão relações de dependência com ele. E desenvolverão a doença do alcoolismo. Quem são essas pessoas é o interesse deste artigo, leitor. O perfil do alcoolista - Eles buscam fazer o mundo duro parecer suave, e empurram para baixo, ou dentro com o álcool, o que de outro modo seria difícil de digerir. Eles precisam engolir tudo, engolir o que vier. E retornam ao plano da infância na medida em que perdem o equilíbrio, tropeçam. Gaguejam, experimentam sentimentos absurdos, e mamam na garrafa, ato que lhes confere o sentimento de proteção vivida pelo lactente. E em longo prazo completam o quadro infantil produzindo a impotência. O álcool estabelecido como droga de fuga, proteção que encobre a dor do fracasso, o sentimento de incerteza e fraqueza. Você me dirá que pessoas nesse perfil devem existir desde sempre, e lhe digo sim, é verdade. Porém, que tenham acesso à tamanha quantidade de cachaça é bem mais recente. Nunca houve como agora tanta oferta, o que faz do álcool a droga mais pesada e mais terrível do Brasil. Ela ganha de longe dos estragos feitos pela cocaína e pelo crack. A única diferença é que o alcoolista não é um infrator, pois é uma droga com consumo permitido. Tão permitido que haja apologia a ela, como o nosso título, uma música cujo refrão é beber cair e levantar outra como, hoje é sexta feira e traga mais cerveja, cerveja, cerveja, e tantas outras.Lembro me bem que ha 20 anos atrás as pessoas construíam uma sala inteira na casa para fazer um bar com direito até a inauguração. Mas essa permissividade, banalidade em relação ao álcool expõe os jovens de hoje muito mais do que os de ontem, porque é a primeira droga experimentada por eles, quase sempre em casa, sendo assim a porta de entrada para as outras drogas, juntamente com o cigarro. Muito raramente um dependente de cocaína ou crack não consumiu antes o álcool. Por ser progressiva, a doença vai se instalando com o tempo, limitando completamente o indivíduo para qualquer habilidade emocional, cultural, social, produtiva. Afeta violentamente suas funções do pensamento lógico, produz um depressivo em alto grau, inchaço nas pernas, inapetência e cirrose no fígado, e óbito. Atualmente a prevenção sobre as drogas mudou o foco daquelas droga ditas ilícitas para outro foco, que é trabalhar o vínculo familiar, a presença constante dos pais na educação dos filhos, a afetividade e cooperação na família; e alertar até com campanhas públicas para os consumos lícitos de álcool e cigarro. A sociedade pode, mas não deve fechar os olhos para essa situação, pois é na família que o jovem aprende a degustar ou a se embriagar, dependendo da ênfase que o entorno dele dá ao uso, podendo ensinar-lhe o abuso. Aqui não falo em reprimir, mas agir. Em casa na infância, não havia barzinho. Lembro meu pai tomando uma cerveja aos domingos juntamente com meu tio Edu. Mas nunca vi meu pai tomando duas cervejas, na vida toda. Meus avôs não bebiam. . Eu e meu irmão não bebemos. Os pais dos meus filhos bem como a família da minha cunhada não bebiam. Meus três filhos e dois sobrinhos não bebem. Sorte? Genética? Pode até ser, mas não tem como descartar a ação dos mais velhos, o exemplo da moderação. Não se deve proibir a televisão, mas ajudar com o seu exemplo a criança seleciona r bons programas. E o mesmo se aplica à bebida. Na realidade se aplica a qualquer situação. Voltando a atenção para o título da matéria, se você tivesse um filho ou pai internado por conta do abuso do álcool, gostaria de cantar aqueles refrões? É no mínimo de mau gosto rir da desgraça alheia, Ninguém canta que vai ficar com raiva para fazer um câncer e operar. Nem todo o que cair vai conseguir levantar. Matéria publicada no jornal dia 10 de março de 2014

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