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FALANDO COM A CRIANÇA PEQUENA


“Para se comunicar com o filho é preciso antes de mais nada, sentir vontade” Juan-David Nasio (psicólogo)

Eu me lembro que quando criança, os adultos não conversavam perto da gente. Mandavam sair, alegando tratar-se de conversa séria. Eu ficava curiosa, e embora obedecesse, minha vontade era de ficar. E conversas eram divididas entre as que não podia participar e que podia. Mistério... De alguma forma tínhamos informações, mas eu, como a maioria das crianças, era tratada como uma bobinha, com conversas evasivas e inventadas. Como nascer no pé de repolho, ou no bico da cegonha, ou ser pega pelo homem do saco, etc. Sentia medo dos fantasmas de infância que serviam de alguma forma para controle do comportamento. Uma passagem de infância muito marcante nos meus cinco anos, relatarei aqui. Como a família criou porcos por uma temporada, me lembro bem que esperava ansiosamente todos os dias encontrar no chiqueiro um “ovo da porca”. Queria muito um porquinho para brincar. E me disseram que nasceria de um ovo. Mas o que me marcou profundamente foi aos 12 anos, quando no meu livro de história (hoje ensino fundamental, equivalente a sétima série), mediante a foto do Monumento às Bandeiras,( no Parque do Ibirapuera S.P.) havia um exercício dizendo: Complete com o nome correto. -"Alguém sabe?" Perguntou a professora, e eu orgulhosamente disse que sabia, e que era: " Deixa que eu empurro". Como já narrei em outro artigo o quanto era tímida nessa época, e porque a classe toda riu muito, incluindo a professora, minha vontade era de entrar em algum buraco e nunca mais ter de ir para a escola. Ao chegar em casa eu tive um verdadeiro " dia de fúria". Hoje os tempos mudaram, ainda bem, e as crianças estão muito mais informadas, Mas os pais ficam em dúvida com algumas questões , principalmente de como e do que falar com as crianças. Para desenvolver uma boa compreensão do filho pequeno para saber exatamente o que ele pergunta, o quanto ele está apto a entender, o quanto sua maturidade evoluiu, você deve se valer da excelente ferramenta de observação e escuta, mas também pode avaliar os brinquedos que ela elege para brincar, os desenhos que elabora, as cores que usa, e seu grau de interesse pelas intervenções e perguntas que ele lhe faz. E não pode perder de vista a noção de que está falando com um ser inteligente desde sempre, não há uma hora em que começamos a pensar,e o que a criança ainda não tem é a experiência e maturidade emocional. Os seus familiares serão responsáveis por formar seu alicerce cultural e afetivo, a base que o estruturará quando adulto. A regra que nunca falha é se perguntar por que ele se interessou pelo tema, o quanto ele pode ser resistente à verdade, e o que essa verdade pode ou não contribuir para seu desenvolvimento. Daí pergunte à criança por que ela quer saber e onde ela viu o tema gerador da curiosidade. Responder com objetividade, explicação curta na linguagem simples é a melhor situação sempre.

Citarei aqui alguns dos problemas que considero mais comuns de dificuldades na compreensão do filho que por causarem ansiedade, geram sintomas e comportamentos difíceis .

  • Como nascem muito pequenos e frágeis, acontece que alguns pais os vêem sempre assim, e não enxergam os filhos como capazes de ouvir e compreender a realidade. Isso cria, ao mesmo tempo, um sentimento na criança de que precisa esconder algumas coisas dos pais para não decepcioná-los ou chateá-los. Já que são vistas como bebês...

  • É comum os pais acharem o filho fraco e medroso. E até não muito inteligente.No caso da criança que apresenta medo mais forte, normalmente a criança está super protegida. O medo está nos pais, e quanto maior a superproteção, mais frágil, mais indefesa e desprotegida a criança se sentirá

  • Temos a criança difícil de lidar, que é a agressiva, provavelmente porque é mimada e junto vem a sua tirania sobre os pais, eles são os reizinhos da casa. Os pais não entendem a própria agressividade, e temem a do filho, se comportando como súditos, e serão tiranizados pelo filho com chantagens e manipulações. Lembre sempre que a inteligência está presente associada à sua imaturidade emocional.

  • A enurese (urinar na cama ou na roupa após os cinco anos) pode ser manifestação agressiva de ciúme de irmãozinho.Está demostrando um transtorno na emoção, por menor atenção.

Como já abordei anteriormente ao falar sobre depressão em um artigo aqui no jornal, a partir dos três anos já encontramos crianças depressivas. Na maioria das vezes deveu-se à separação dos pais, e entristece, sente-se insegura e perde as referências familiares que tinha. E onde está o maior problema do diálogo entre pais e filhos? O maior problema mesmo são os pais, infelizmente. O filho será o reflexo dos pais; é deles dos pais, a dificuldade em entender e aceitar a realidade, é deles o medo, eles não sabem lidar com a própria agressividade. Se julgam os coitados que não tiveram tudo o que queriam e mimam os filhos dando em excesso . Se acham reprimidos ou oprimidos e na contramão não sabem colocar limites, e nem cidadania. Vivem disputando cargos e salários, e quase sempre também tem um irmão ou cunhado digno de inveja na família, falando sobre esses assuntos frequentemente e sempre na frente da criança. Ainda para piorar ao chegar em casa cansados e nervosos se sentem no direito de assistir ao noticiário ou novela, justamente no momento em que seu filho necessita que seja uma pessoa sóbria e disponível para travar uma interlocução; e que dê a atenção necessária para uma boa observação sobre ela. Faz-se necessário sentir a criança como um inteiro,como frisei, ela é inteligente desde sempre. Temos de respeitá-la apesar de ser pequena, saber que ela observa, tem repertório e fala muitas coisas interessantes também. Aprendemos bastante com a sabedoria infantil , do pequeno ávido de viver as experiências do mundo tal qual ele é. Gostaria de dizer ainda que segundo Matin Luther King, pouca coisa é necessária para transformar uma vida: Amor no coração e sorriso nos lábios. “As melhores estradas provocam algumas das maiores chateações, inconveniências, desvios e aborrecimentos quando estão em construção ou manutenção”. matéria publicada no jornal dia 10 de junho de 2014

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