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ARQUÉTIPOS


Estava lembrando que na infância, eu e meu irmão brigávamos bastante. Sei tratar-se de uma prática comum, porém nem todos os irmãos brigam; e lembrei que provavelmente disputávamos o amor da mãe, pois tendo a razão na briga, receberia aprovação e reconhecimento. A mãe estaria do lado daquele que estivesse certo. E como ele era mais velho e maior, eu sempre ficava com a pior parte, não sabia me defender.

Ao iniciar meu processo de auto conhecimento na terapia, acreditava que ele me deixava muito nervosa naquela época. E como foi difícil eu entender que não, eu é que tinha o nervoso dentro de mim e que se manifestava porque eu deixava vir à tona sempre que ele resolvia quebrar o tédio da infância, e me provocava para que eu reagisse mesmo, pois ele sempre levava a melhor (risos).

Com a faculdade veio o auto conhecimento, e a análise funcionou como um “espaço da verdade” escondida pois nela assisti à emergência de saberes totais gerais, supra- históricos e extranarrativos. E percebi que vivi um arquétipo, isto é, tudo aquilo que há milênios o termo irmão remete. Da carga emocional dessa constelação de imagens coletivas, amorosas, rivalizadas, que por milênios ativam os conflitos até hoje. O espirito humano arquétipo é um modelo das coisas sensíveis que existem na mente do homem, ao invés de na mente de Deus,e enquanto modelo originário é qualificado como a força psicológica natural por excelência, São formas e categorias que regulam o espírito humano e os princípios formuladores e reguladores supremos da vida religiosa, política, e das idéias e representações mais poderosas da humanidade bem como os próprios conceitos de ciência, da filosofia e da moral.

Mas como me preocupava muito com ele, e pensava direto em como brigávamos, boa parte dos meus dias passava focada nele, e quando a gente se foca muito em um único objeto, fazemos doença psicológica,e eu havia feito uma neurose, pois a minha percepção e sentimento estavam sendo movidos pela ativadade do inconsciente. É como se em mim houvesse um leito seco de um rio que eu desconhecesse o curso, porém eu fiz chover na cabeceira (com os sentimentos que inconscientemente deixei me levarem) e ele se fez rio caudaloso.E assim como Caim e Abel, eu e meu irmão passamos até a adolescência, brigando.

Mas, por que isso aconteceu?

Não foi uma escolha, mas sim uma necessidade, pois somos remetidos a um arquétipo sempre quando há uma necessidade trágica em que o próprio sujeito veio a se encontrar.

Onde está a minha tragédia?

Na competição pelo amor da mãe, percorri o caminho que há milênios a humanidade percorre. O irmão me atrapalhava, e eu tinha muito medo do abandono em decorrência da troca que a mãe poderia fazer, e “lutava tragicamente” para que isso não acontecesse jamais. Então fiquei fadada a repetir a história arquetípica entre irmãos. Portanto, leitor, você que é pai ou mãe, preste atenção na relação entre seus filhos. Você pode minimizar o arquétipo, trazer mais companheirismo a eles, passando segurança aos briguentos, e deixando sempre bem claro que você é o responsável por ambos e que vai estar sempre ocupado em que eles estejam bem. E que ambos estão em mãos amorosas que estará disposta para eles e sempre com eles.

Bem, a minha história com meu irmão acaba no bem, graças à minha nova visão e resgate da nossa relação, mas quero com esse exemplo dizer que nem sempre estamos escolhendo a infelicidade ou a doença. Pelo menos, não conscientemente, pois os leitos de rios secos na nossa psique são muitos e nunca se sabe quando deixamos chover na cabeceira. E claro, embora os arquétipos se repitam, sempre recebem interpretações diferentes com os tempos. Se Caim matou Abel e o que sobreviveu, o pior dos irmãos, foi capaz de matar, é possível com inteligência e afeto terminar a disputa em que os dois sejam do bem.

Narramos aqui um dos muitos arquétipos que habitam no nosso inconsciente , nos levam sem que saibamos e por isso afirmo agora que nem tudo o que vivemos é escolha. E se você prestar atenção, pode ser que esteja vivendo um grande arquétipo nesse momento e sem saber. Falaremos mai sobre esse assunto em outras publicações do nosso jornal.


Matéria publicada no jornal dia 10 de agosto de 2014

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