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A INFLUÊNCIA DOS SENTIMENTOS DOS PAIS NA EDUCAÇÃO DOS FILHOS


Durante alguns anos atendi crianças e seus pais. Foi uma ótima experiência e aprendizado. Entre outros assuntos elegi os sentimentos dos pais, pois percebi que na realidade, são poucas as crianças que precisam de uma intervenção psicológica, e sim, quase sempre, ou melhor, sempre os pais necessitam de orientação ou auto conhecimento. Porque é preciso pensar sobre o que é acompanhar o desenvolvimento de um ser, de A a Z. E se preparar só para receber um bebê é o que mais acontece. Porém, na medida em que o bebê deixa de ser, vem a surpresa daquele outro, o filho que se mexe, tem vida e desejo próprios e não faz o que os pais mandam.

Claro que por falta de entendimento ou preparo, emoções diversas surgem na medida em que os filhos são criados de acordo com a realidade interna de seus pais.

E como dizia C.G.Jung( psiquiatra), “ é só através do outro que eu me reconheço”; e quando pais, é na relação com os filhos que conseguimos nos ver, e o que não reconhecemos como nosso, começamos a acreditar que está no filho, e que “os filhos são os doentes”. Mas só que não.

A angústia de sentimentos do passado de cada pessoa reflete diretamente nas atitudes que os acabam norteando sempre que precisam escolher o rumo da educação. Elencarei as angústias que percebi como as principais “detonadoras” do processo que poderá levar a criança ao divã. Gostaria de trabalhar com você leitor e tenho a pretensão de pedir para que tente se localizar nos relatos e os ilustrar melhor com a sua própria história. Que tipo de pai/ mãe você é ou teve?

  • -1 Pais com necessidade em ter

“Os avós querem dar um jipe motorizado. Eu sei que ele ainda é pequeno, mas eu nunca tive um brinquedo como essa na minha infâcia. Eu quero dar pra ele tudo o que não tive, então disse aos avós que podem comprar”.


  • -2 Pais com necessidade em ser aceito

“André tem 4 anos mas é muito inteligente, vou deixar por conta dele, e sei que tomará a decisão acertada de comer os doces da sua caixa de doces, só depois do jantar,Converso e deixo para ele decidir”.


  • -3 Pais com necessidade em ser amado

“Sempre que repreendo Lúcia, por qualquer coisa que esteja fazendo errado, ela me xinga de boba, diz que não gosta de mim e que vai morar com a vovó. Quer sair de casa sozinha, eu me apavoro porque ela é muito decidida, então eu consinto no erro dela e deixo para lá”,

  • -4 Pais com culpa

“Eu fico longe dele o dia todo. Quando a gente chega em casa, tenho q preparar o jantar, cuidar da louça e da roupa para o dia seguinte. Se ele faz arte, anda nas costas do sofá, apronta, fico sem coragem para repreendê-lo porque não consigo dar atenção nunca.”


  • -5 Pais que quer se livrar de educar

“Quando ele começa a bater o pé, rolar no chão, gritar “eu quero “, eu não aguento, dou logo o chocolate ou brinquedo que ele quer, pois todo mundo fica olhando, na rua, no mercado, é horrível. É demais, ele é insistente, muito insistente.”

  • -6 Pais que têm necessidade de saciar e satisfazer em excesso

“A minha filha já está na quarta Barbie. Ela gosta, me pede com aquela carinha de anjo, eu penso: Ah! Ela quer tanto, mesmo que seja mais uma Barbie. Então eu compro, mas acabo levando também mais algumas bugigangas, do tipo: borrachinha cheirosa, canetinha prateada, essas coisas”.


  • -7 Pai “amigo” que não quer ocupar o papel de pai

“Berta, eu sou seu amigo e agora como tem cinco anos você pode me chamar de Nik. Não me chame mais de pai, ok? Sou seu amigão.”


Percebe que a angústia gera um comportamento inadequado no filho? Do outro lado temos a criança que não é uma” tábula raza”, (nascida em branco, vazia, e o meio se responsabilizaria por preenchê-la); nasce com algumas predisposições inatas. Então essas atitudes dos pais irão influenciar dentro da capacidade que elas terão para elaborar esses sentimentos. Com certeza e na melhor das hipóteses, um pouco desses sentimentos dos pais irá sim, interferir no processo de desenvolvimento das relações entre eles.

Quando o filho pedir as “estrelas”, os pais do “ter” não poderão satisfazê-lo. Como controlar a frustração se ele não sabe como lidar com ela?

Quando a criança não sabe dos limites, sente-se insegura e poderá extrapolar o comportamento para pedir o limite ou limitar-se além da conta por não conseguir escolher a conduta. E no exemplo pode além disso acabar com distúrbios no comportamento alimentar.

Os laços que unem pais e filhos são extremamente fortes e seu filho lhe amará mesmo e principalmente quando você disser não, pois é o não que lhe mostrará o quanto você se importa com ele preservando-o de males possíveis. Aqui temos um tirano dos pais

O ideal é que você consiga um tempo para dar a seu filho, podendo inserí-lo nas pequenas tarefas só para ficar mais junto, mas saiba que é bem pior a sua permissividade causada pela culpa, do que seu filho se adaptar à sua falta de atenção,pois esses são os pais que ele tem, os pais reais.Que o repreendem sim, mediante situações de abuso apesar da falta de tempo.

Se você não quiser educar seu filho, vai dar para quem fazê-lo? Ele está fazendo pirraça e se não for contido, as choradeiras aumentarão, poderá fazer capricho, e manipulação ou chantagem mais para a frente. Isso tem de parar.

Faz-se necessário que a criança estabeleça vínculos com os brinquedos, para reproduzi-los com as pessoas no futuro. Tudo é aprendido na fase infantil, e poderá aprender a banalização do ter, nada mais agradará, e os vínculos também poderão ser frágeis.

Você teve a grande oportunidade de ser pai e agora quer ser amigo? Amigo é infinitamente menor que a responsabilidade do pai. O amigo destrói patrimônio público junto na adolescência, pixa, fuma, transa, escondido dos pais. E o pai está lá, para dizer que gostaria muito de ser amigo, mas não, porque é muito mais, e estará sempre auxiliando e ensinando, e se responsabilizando para que nada de mal aconteça ao filho.

Então não é que necessariamente haverá um problema na conduta de cada um desses filhos, mas digo que são os mais prováveis de manifestarem comportamentos inadequados ao convívio social. E o meio não é um pai amoroso, como você e não perdoa. Se não o ensinar com amor seu filho irá sofrer. Se localise, melhore suas angústias e tenha pulso - ajude seu filho.

Matéria publicada no jornal em 10 de outubro de 2014







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