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EPIDEMIA


Li no mês passado uns dados sobre uma pesquisa que localiza a mulher no mundo atual, fato que me deixou muito pensativa e quero compartilhá-los com você leitor para nossa reflexão deste mês.

A legislação de 139 países e territórios já contempla a igualdade de gêneros (72% membros da ONU); Na região da América Latina e Caribe, há uma média maior de 10 mulheres assassinadas em cada 100 mil habitantes, A ONU consideraria uma “epidemia” esse percentual em outras doenças; Na Europa, uma entre quatro mulheres já foi agredida no lar ao menos uma vez na vida; Estudo conduzido pela ONU em seis países do sudeste asiático e Oceania revelou que 1 a cada 10 homens ( de 18 a 49 anos) admitiu ter estruprado uma mulher com a qual não se relacionava; Das até 2 milhões de pessoas traficadas anualmente para prostituição, mão de obra forçada, escravidão ou servidão, 80% são mulheres e meninas; 38% dos assassinatos das mulheres, bem como um quarto de estupros são cometidos pelos parceiros íntimos delas. Então mediante esses números a pergunta é – por que?

Nos jornais de março e abril de 2013 trouxemos o tema “Força Animadora”, com a qual quero fazer uma ponte necessária. Lá, digo que existe no inconsciente de cada um de nós o que C.G.Jung (psiquiatra) denominou de Ânima/Ânimus,e que reconhecemos projetando no outro, na figura oposta, mas é conteúdo nosso e da nossa psique, é uma personificação feminina no inconsciente masculino e vice-versa. São as tendências do sexo oposto na psique da pessoa. Nós guardamos essas referências ao conviver com o sexo oposto ao longo da existência. E ainda falamos que no homem, a ânima vem na representação dos humores, dos sentimentos instáveis, das intuições proféticas, da receptividade ao irracional, da capacidade de amar, da sensibilidade à natureza e por fim, ao relacionamento com o inconsciente. E que no homem, isso é moldado a partir da figura materna, isto é na maioria dos casos, da mãe. Depois o artigo versa para um desenvolvimento saudável de ânima e ânimus, que você poderá ler se quiser, mas nós não reproduziremos agora, porque aqui estamos falando da influência negativa da ânima no homem. Quando ela, a ânima, deixa de oferecer qualidades ao homem e adoece sua psique, pois o leva a uma atmosfera de irracionalidade e emoção descontrolada. Aqui Ânima, “A parceira invisível”, se comporta como “demônio” ao invés de anjo. Mas como é formada essa ânima? Este é o ponto - Da figura de quem amamentou, cuidou e propiciou o desenvolvimento do bebê, tornando-o homem, isto é, da mãe. Ele fere as companheiras, desrespeita a figura do feminino, a partir da sua figura feminina de referência. Fere e mata e odeia nessa quantidade alarmante, epidêmica da tragédia feminina.Coloca fogo para expressar o desamor “ardente”, joga substâncias corrosivas para expressar seu ódio “ácido”, estende o poder da sua mão e da sua penetração viril, atirando com revólver ou esfaqueando, estuprando com “total” violência. Sem lidar com a frustração não concebe a idéia de que não será dele aquele objeto tão desprezível, tão sem valor, e que não vai ser de mais ninguém

Precisamos nos perguntar quais são os exemplos que os homens que fazem parte dessa estatística estão recebendo? Mas podemos inferir que infelizmente foram educados por mães emocionalmente doentes, e os “Parceiros invisíveis” dessas mulheres, isto é, o Ânimus também produziu uma influência negativa sobre elas. Sem despertar admiração como mulheres criam esses indivíduos, que só sentem prazer no domínio imperioso e subjugação do outro mediante a sua vontade e desmandos. Não estão aptos à diálogos, ficaram embrutecidos. E foi por má influência de mãe fraca, empobrecida espiritualmente e psicologicamente, que tem sentimento de menos valia, não pode exercer sua dignidade, vista como a desqualificada tarefeira sufocada que trás comodidades e regozijos aos homens . Enfim, esses homens na convivência diária formam uma figura destruída e desvalorizada de mulher em suas psiques, e reproduzem e projetam esse filme nas demais mulheres. E agora?

Sabemos que pessoas que sofrem agressões na infância tendem a adotar comportamento violento para solucionar conflitos na fase adulta (USP 2010). Então temos meninas vitimizadas, desqualificadas pelo entorno, cultura empobrecida por uma sexualidade banalizada, que serão essas adultas, as mães vitimizadas que vitimizarão seus filhos num contínuo ciclo.

Gosto muito de lembrar que Jesus foi um dos primeiros homens que derruba o machismo ao se colocar na defesa de uma mulher, fosse ela quem fosse, impedindo a primeira pedra e consequentemente as demais. E gostaria de lembrar que com certeza, muita gente, mulheres e homens que fazem parte desses números inicialmente colocados, são cristãos. Que pena! Não entenderam nada ainda...

Não tenho uma receita de bolo para oferecer aos senhores, sobre esse tema, mas sei que de alguma forma esse ciclo do mal, precisará ser cortado e para acabar com essa epidemia de nada adiantam leis novas ou cadeias eficientes.

Faz-se necessário disseminar muita saúde mental, mas infelizmente não faz parte dos planos de saúde particulares ou públicos, e nem do currículo escolar. Eu acredito que os atendimentos não são de saúde , não há plano de saúde, e sim de doença. Você só é atendido mediante alguma gravidade. Prevenção ou profilaxia,( isto seria manter saúde), na área mental inexiste, até para os problemas existentes, procure em seu convênio, o que ele lhe oferece. Como ajudar o psicológico das crianças que de alguma forma sofrem algum tipo de violência? Como adicionar à educação exemplos de pessoas mais saudáveis? Nunca com um número ineficiente de 12 sessões de psicoterapia,o que é oferecido atualmente na rede particular, nos convênios.

Necessitamos de pessoas idealistas, pessoas que não acreditam na fatalidade de destinos, e que se empenham verdadeiramente a socorrer as crianças vitimizadas, atendimentos psicológicos e psiquiátricos para seus traumas e recalques, para tentar mudar esse quadro tão triste na história da humanidade. E de outras boas e novas idéias.

Só gostaria de lembrar que se seus filhos não sofreram violência na infância, que bom! Mas isso não é condição para não se envolverem já adultos e casarem com quem sofreu, e essa tragédia não está distante de nenhum lar.

“Se quisermos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova” M.Gandhi

Matéria publicada no jornal em 10 de novembro de 2014.



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