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O MENINO JESUS


“Crescia o menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele” (Lucas 2:40)

...E o menino brinca com coleguinhas, sobe nas oliveiras, come os pães e as frutas da região, veste tecido de algodão cru. Volta para casa olhando para trás para ver a poeira que seus pés inquietos levantam enquanto corre. E se diverte com o vento batendo no seu rosto. Em casa, sua mãe lhe banha os pés enquanto ele trava uma conversa com o pai, e ao mesmo tempo devora um naco de pão, enquanto o pai lança um olhar de aprovação e estima que é acompanhado de afagos em seus cabelos. Se aconchega numa cama revestida com pele de ovelha, a mãe conta uma história do Torah e lhe dá um beijo de boa noite.

No meu imaginário, essa deve ser a tradução da frase de Lucas, Jesus crescia e se fortalecia, com sabedoria. Só pode ser recebendo os cuidados necessários com a criança, física, emocional, intelectual e social , que são indispensáveis à uma vida simples e saudável.

Sabemos disso porque por exemplo, pesquisas entre as crianças que passam fome e desamparo na África, apontam claramente os danos permanentes ao cérebro, e também prejudicam a capacidade de expressão emocional, como resultado da falta desses cuidados. E quero nesta edição pensar na nossa realidade em paralelo à da África.

Como é essa carência no Brasil?

Ainda estamos no começo do entendimento das consequências psicofísicas das crianças oriundas de lares carentes. Entenda-se aqui por lar carente todo aquele que deixa de ofertar um desses pilares no desenvolvimento da criança, seja alimentar, cuidados básicos de saúde, ou atenção e afeto. Então também não podemos deixar de fora as crianças provenientes de lares que, embora abastados, tenham um “altar” para o álcool, jogo de azar, ou drogas químicas; elas terão seu desenvolvimento ao lado dessa idolatria, portanto conviverão com adultos usuários desses elementos ilícitos. Dá para imaginar brigas, desrespeito, violência em alguns desses lares. Temos também outros elementos, mesmo que lícitos, mas tão perniciosos e nocivos quanto, tais como tabaco, ou excesso de sal e açúcar. Qualquer situação, vai gerar crianças subnutridas em algum aspecto, e que sofrerão consequências da saúde, seja ela física, emocional, psicológica, intelectual. Mesmo no excesso, pois se obesas, dificilmente escaparão das brincadeiras ofensivas e preconceituosas.

E se Jesus cresce saudável, não tem como deixarmos para trás a participação de seus pais nesse momento. Ele experimentou um modelo ideal de família. Teve na proposta do seu desenvolvimento um plano familiar, um lar com pai, mãe. E nesta época do ano, dezembro, vemos a cena estampada nos presépios, como fruto do nosso inconsciente coletivo. Os pais guardando a criancinha na mangedoura, fazendo uma “carícia essencial”, isto é, olhando-a e vigiando-a atentamente.

Por isso crescia e se mostrava seguro, com excelente auto-estima, Ele tinha identidade, isto é, sabia o que era e a que pertencia, uma ident comificação com aquela família, E durante os anos importantes de sua formação na infância, pode contar com cuidados físicos e emocionais, estabilidade, amor, limite.

A pergunta : - E como eram seus pais? Vamos utilizar novamente o incosciente coletivo para imaginar que: - eles precisavam não só ter caráter, mas também piedosos, mostrando uma ética com coerência entre o que era falado e o que era feito; deviam ser presentes, amorosos. Deveria ter neles bondade associada à correção implicando ensinar disciplina e limites; e deveriam ter humor estável além de alguma renda.

Geralmente no Natal é quando estamos mais abertos às emoções, sensíveis e amorosos, então vale repensarmos as nossas atitudes. Provavelmente perceberemos que como pais, podemos ter muitos acertos, porém também podemos dificultar a vida de nossos filhos oferecendo –lhes pão amargo e maus frutos como: descaso, injustiça, instabilidade, insegurança, falta de amor, falta de limites, incoerências, violências, rejeição, falta de ética, falta de renda financeira, dificultando-os a desenvolver relacionamentos duradouros com outras pessoas por sermos pais geradores de carências. Daí não temos mesmo como apreciar meninos do tipo” Jesus”. E cada vez que falarmos mal dos nossos meninos brasileiros, estaremos falando de nós mesmos e das carências que plantamos neles, tanto no coletivo, quanto no individual.

“Ser amado e cuidado pelos pais, cria um forte sentimento de pertença, que capacita os jovens em crescimento a entrar em contato com outras pessoas e bem relacionar-se com elas” (David A. Seamands – O poder Curador da Graça).

Se a família é a principal formadora: - sobre o que pensamos de nós mesmos, da consciência que temos como mundo; e se você amigo leitor quer um filho do bem, então pode aproveitar agora e fazer algo como por exemplo, se desapegar um pouco de seu Eu para liberar-se de algum comportamento gerador de desarmonia para a formação do mesmo. É necessário admitir que todos nós temos muitos desses comportamentos. E a proposta para esse Natal, pode ser melhora num deles. Não tem como exigir um Menino como Jesus se você está anos luz distante do comportamento de Maria e José.

E me compadeço pelos nossos meninos cada vez que ouço falarem mal deles... Brasil, ano de 2014... cenário triste para uma parcela considerável de crianças com carências mil.

Uma dica, o primeiro degrau da longa escada a subir. Quer chegar mais perto do comportamento desses nossos pais exemplos? Não compre” mil brinquedos” ao seu filho, mas coloque-o em contato com algo muito maior, com alguma criança que pertence aos dados da pesquisa que citamos aqui, e que realmente necessita de um afeto, um carinho, uma comida, roupinhas e um brinquedinho. Seja desapegado, dê o dinheiro da sua farta ceia a um pai que não conseguiria dar uma refeição ao filho. Seja simples. Tenha atitude todos os dias do ano. Ajude com a sua parcela “Dá tudo o que tem e vem”. Faça Natais felizes aos nossos brasileirinhos. ...E a graça de Deus se fará presente!

Matéria publicada no jornal em dezembro de 2014.


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