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IDEALIZAÇÕES


“A psicoterapia torna-se fundamentalmente espaço para a” verdade” escondida. C. G. Jung”


A moça resolveu colocar determinado tipo de preenchimento labial e procurou um médico da sua cidade que lhe perguntou se ela queria em definitivo ou provisório. Optou então pelo sistema em definitivo. E um tempo depois acordou com os lábios deformados. O marido esbravejou acreditando que ela de novo havia feito algum procedimento estético. Mas só que isso não ocorrera. Ao procurar socorro, outro médico lhe perguntou qual material havia sido colocado nela e a resposta foi : - NÃO SEI, NÃO PERGUNTEI, E ELE NÃO ME FALOU.

Resultou que uma rejeição ocorrera, e ela ficou com sequela daquele procedimento, tendo os lábios deformados por conta desse processo.

Essa notícia do telejornal chamou minha atenção. Pensei: O que faz uma pessoa se submeter à outra com tanta convicção de que tudo sairá bem? E associei que mesmo ali sendo um procedimento estético, quando se trata de uma doença não ha diferença na submissão.

Por que confiamos tanto no médico?

A resposta simples de que ele é uma pessoa qualificada por um certificado não convence na medida em que o advogado também o é e muito mais, pois tem de fazer um exame de competência na ordem deles antes de exercer a sua qualificação, Coisa que o médico não se submete, embora ambos sejam chamados de doutor mesmo sem doutorado. Eu poderia usar qualquer profissão, mas a escolhida a meu ver é perfeita por essa igualdade, os doutores. Só que olhamos com um grande diferencial cada uma delas. Ao contrário de tanta confiança delegada a um, temos o inverso, uma proporcional desconfiança ligada a outra. Situações idealizadas é o tema desse artigo, e veremos qual a verdade escondida aqui.

Idéia é uma palavra originada do verbo grego e que significa “ver” e foi utilizada por Platão para designar o objeto na sua visão intelectual, e C. G. Jung. acrescenta que é uma visão que se contrapõe, ou melhor, se justapõe às coisas da visão sensível. Outra forma de ver, que fica na frente da forma, e que a mascara.

Então a ideia é aquilo que vemos como representação psíquica ou mental, o que difere do que supostamente é. A idéia é formada a partir dos sentimentos que o objeto nos causa, é além do objeto.

Voltando ao tema, idealizamos pelo que cada profissão nos causa; não pela profissão em si.

A justiça é o objeto do direito. Onde falta a justiça se procura seus direitos. Mas como acabamos de falar da representação psíquica, todos nos achamos com muitos direitos, e nem sempre eles acontecem na mesma ordem, porque em todo processo haverá algo que não é mensurável – a perda emocional que produz raiva, mágoas – nos processos mais variados: separações de bens em geral, homicídios e outros temas( in) justos. O advogado lida diretamente com pessoas que se sentem em desacordo, injustiçados, isto é, ambas as partes se consideram assim. E claro, nunca sairão satisfeitas, e mesmo que as resoluções não sejam tendenciosas a nenhuma parte, o que fazer para suprir a dor da perda emocional, aquela que está na ideia?

No Brasil a justiça é lenta, não o advogado, e taxas e serviços são pagos, seguindo uma porcentagem sobre o valor em questão, porém o cliente normalmente acha caro. E a finalização morosa dos processos geralmente levará à perdas emocionais, apesar do resultado ser favorável. Idealização.

E quando procuramos o médico? Todos temos na “ideia” que com certeza um dia adoeceremos e alí estará a nossa salvação; o sentimento vigente é o – medo de morrer- e queremos que ele nos CURE. E deixamos essa pessoa cortar, perfurar, medicar, opinar, tudo o que ela disser que deve ser feito porque estamos dominados pela emoção da finitude. E cobra caro, tem os remédios etc, mas aqui dizemos que a nossa saúde ou a vida não tem preço.

Passa a ser “visto”como – imagem do centro da psique global, da personalidade total, levando a totalidade, isto é, imagem primordial - Deus. Nos entregamos. Nos abandonamos. E nem nos damos conta de que ele não foi testado ao sair da faculdade (como os advogados foram), já acreditamos que todos eles quando alunos eram nota dez, absolutos e maravilhosos. Idealização.

Aqui temos para aprender que existe uma realidade apesar da idealização, e quanto mais próximos da realidade mais saudáveis emocionalmente seremos. E corremos menos riscos de sermos surpreendidos por maus profissionais, sejam quais forem.

Brincando com a idealização dessas duas profissões me ocorre perguntar: quem vale mais, o médico ou o advogado?

E concluo leitor - De que vale quem te cure se não estiveres livre para viver?

Matéria Publicada no jornal em 10/03/2016.







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