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TRANSTORNO BORDERLINE DE PERSONALIDADE



“Quem me vê calado não imagina o tanto de diálogo que se passa na minha cabeça” O Rappa


João fez 24 anos e acaba de ser internado por abuso de drogas, está altamente nervoso e agressivo, odiando aquela situação; a mãe desesperada o levou a força porque não consegue mais conviver com o filho.

Relato da mãe: “Ficou viúva e as mudanças na sua vida e na do filho foram drásticas, pois não recebeu pensão e não trabalhava. Na época João chorava muito e tinha medo que ela não voltasse para pegá-lo na escola, e as vezes vomitava antes de ir. Ela equilibrou-se um pouco e casou-se novamente quando João tinha 8 anos, mas infelizmente ele sofreu abuso sexual pelo padrasto, e isso perdurou mais de um ano. Relata ainda que seu filho sofreu muito para adaptar-se ao novo contexto e para superar, elaborar a violência do abuso. Após saber sobre o abuso, separou-se do padrasto, porém tinha mais um filho para criar . E a convivência com João sempre foi muito difícil,” do nada” ele mudava e criava algum caso com o irmão ou com ela. Diz ainda que ele ia bem na escola, porém sempre havia alguma confusão com os colegas a ser resolvida. João sempre foi impulsivo e reagia mal à situações de frustração, demonstrando muita raiva, e as vezes era difícil de se controlar. E já tentou o suicídio bebendo creolina e cortando os pulsos com um caco de vidro. Resolveu interná-lo porque começou a usar drogas, e num desses surtos de raiva ambos se atracaram, ele a feriu no braço, e agora está com medo dele. Reconhece as situações difíceis que ele passou na infância, mas alega que se esforçou e procurou dar amor, e suprir as necessidades básicas, porém ele parou os estudos, e sempre se coloca como vítima em todas as situações. E por mais que fale ou faça ela não consegue mudar essa visão vitimizada dele; mas reconhece que, apesar de tudo, quando está bem é um filho carinhoso.”

Você leitor amigo, pode pensar que o maior problema nesse caso ´refere-se às drogas, só que não é.

João enquadra-se no transtorno de personalidade que lhe confere um padrão difuso de instabilidade nas relações interpessoais, na auto-imagem, nos afetos; e com acentuada impulsividade.

Veja os sintomas do TBP e compare com os relatos da mãe:

- Medo de abandono real ou imaginário;

-Relacionamentos intensos e instáveis, onde idealiza e em seguida desvaloriza;

-Auto-imagem que se alterna em ótima e péssima, e fica sem saber exatamente quem ele é;

-Impulsividade, excesso de compras, sexo, abuso de substâncias, direção perigosa, exageros alimentares;

-Comportamento suicida recorrente;

-Instabilidade emocional por variação no humor;

-Sentimento de vazio crônico

-Raiva inapropriada e intensa, difícil de controlar, incluindo agressões físicas;

-Ideação paranóide, isto é, “cismar com uma situação de persecutoriedade”;

-Impacto do ambiente familiar durante o desenvolvimento da criança.

Diz-se que uma pessoa tem um transtorno na personalidade quando ela não demonstra uma flexibilidade e adaptabilidade mediante as situações que se apresentam durante a vida.

O que são características de uma personalidade saudável? São os que apresentam estabilidade e permanência nas reações a ponto de ser até previsível, embora tenham uma grande variedade de respostas às situações da vida e principalmente às situações estressantes.

Na verdade, a droga veio bem depois de todos os sintomas que ele já vinha apresentando, e só fez acentuar alguns comportamentos, porque esse rapaz tem um transtorno na personalidade que denomina-se Borderline, isto é, o limite entre o funcionamento neurótico e o psicótico.

É muito difícil diagnosticar essas pessoas, pois são facilmente confundidas com outras patologias, e costumam ser refratárias às orientações médicas; porém necessitam tratamento psiquiátrico e psicológico, pois correm riscos de suicídio e sofrem muito. E a família precisa de orientação para entender a pessoa e ajudá-la a melhorar. Segundo o psiquiatra Kernberg, a patologia básica é o excesso de agressividade que provoca essas reações em cadeia. E ela ainda criança já se vê como perigosa e assassina e vê o mundo como hostil.

Se você identificou alguém com esses sintomas saiba que ele precisa de ajuda.

Matéria publicada no jornal em 10/06/16







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