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INTERFERÊNCIAS OCULTAS E COMPORTAMENTO



“Um dos maiores desafios na vida é ser você mesmo em um mundo que está tentando fazê-lo ser como todos os outros” O Rappa


Refletia com meus botões sobre o comportamento das pessoas quando se relacionam inter mídia social. Nem todas, mas podemos pensar que muitas pessoas falam e fazem no Facebook aquilo que não falariam ou fariam no sistema presencial (Deixando à parte o bom uso dos meios virtuais de comunicação). É quando podemos observar as discussões sobre qualquer faixa minoritária que sofre preconceito, nas preferências e opiniões políticas, nas críticas nem sem pre decorrentes de uma verdade, nos nus ( fotos íntimas ou pornográficas) , e outros tantos assuntos, que percebemos comportamentos muitas vezes exacerbados, agressivos, maldosos, mentirosos, exibicionistas. É onde laços de pseudo amizades se fazem e desfazem sem nenhum constrangimento ou culpa por serem desprovidos de emoção. Aparecem os “Deuses da razão e da verdade que emergem arrebatando antipatias através de polêmicas idiotizantes , de mensagens espinhosas para atingir alguém em especial , encontros presenciais catastróficos são promovidos em nome de alguma bandeira a carregar em marchas pela cidade, e outros tantos assuntos.”

Lembrei-me então de um livro que li há alguns anos atrás, cujo autor Hall Edwardt, escreve sobre os estudos do limite na distância física que colocamos uns para os outros, um território oculto que cada pessoa conserva como proteção do corpo e do próprio self, e que nos propiciam uma distância “segura” do outro. Em certo ponto se respeita uma distância, e passar dali será considerado invasivo e perturbador.

Pesquisas mostram que todos os animais possuem também uma espécie de “bolha” envolvendo o corpo, delimitando um território, impondo distância durante o relacionamento. Por isso damos uma distância maior ao falar com estranhos, e podemos ou não deixar que a pessoa entre no nosso território com o conhecimento, enquanto os mais íntimos recebem de nós total permissão para nos tocar . E cada animal, cada homem, cada cultura, faz uso diferente desse espaço de maneira que pode afetar, interferir nas relações - pessoais, profissionais, e ditar normas na arquitetura e até no planejamento urbano.

Por exemplo, os americanos constroem casas em madeira, portas leves, e a dimensão oculta deles não é tão grande ou rígida. Sentem-se seguros com paredes finas, e o som propagando mais facilmente pelo ambiente. Fazem muros baixos de separação entre as casas , e normalmente em madeira também. Mas não suportam cheiros nas pessoas, por isso colocam aromas agradáveis em todas as coisas, como produtos de limpeza, aromatizantes de ambiente, produtos de higiene pessoal, alimentação.

Quanto aos alemães bem como alguns europeus, utilizam pedras para construir as casas, portas maciças, pesadas e bem grossas. Precisam de muita privacidade nas suas casas . Sua dimensão oculta ao aproximar-se de um estranho e maior para a bolha ficar mais resistente e difícil de penetrar.

Quem já foi para a França e sentou-se num bistrô, onde as cadeiras são bem juntas a ponto das costas das pessoas ficarem quase coladas umas nas outras, propiciando contato íntimo com desconhecidos e se sentiu desconfortável? Pois é, para eles essa proximidade com os desconhecidos é boa, normal, a dimensão oculta deles é menor, mas para nós brasileiros é incômoda, bem como sentar-se à mesa para almoçar com desconhecidos. Nós brasileiros gostamos de proximidade, mas não tanta, não é? Nossas casas são quase todas em tijolos, alvenaria, com portas médias e muros reforçados. Nem madeira e nem pedra.

Essa dimensão oculta dos corpos também foi usada no circo para demonstrar controle sobre os animais ferozes, onde uma escada com três degraus era colocada a certa distância da grade, e o domador usava uma cadeira para não penetrar na dimensão do leão, forçando-o a procurar um lugar mais alto para fuga ou ataque, caso o domador penetrasse na sua dimensão oculta. Se o domador avançasse uns centímetros a mais, o animal atacaria acertando primeiro a cadeira.

Sabemos também que dentro de um carro, essa dimensão no homem se altera, parece como se a lataria do carro é que formasse a dimensão , e o motorista sente-se mais protegido e seguro ,o que lhe confere outro comportamento, as vezes demonstrando-se agressivo, irado , egocêntrico e intocável. A qualquer incidente por menor que seja, reagirá ferozmente e conhecemos as graves consequências incluindo crimes que podem decorrer a partir desse sentimento.

A minha pergunta agora leitor, é: Qual a alteração que os sites de comunicação de massas provocam na dimensão oculta de cada pessoa, protegidos que estão atrás da tela do computador?

Dou a minha opinião e espero que me envie a sua após ler esse texto. Tenho para comigo que a dimensão oculta onde o outro são todos, um mundo globalizado, qualquer um, mas como se fosse numa revista estão expostos. E ao mesmo tempo se tem a sensação de total proteção por se estar na maioria das vezes dentro de casa na maioria no quarto, seu’ quartel general’, com portas cerradas, fornecendo a maior segurança emocional que experimentamos. O que pode nos deixar por demais engrandecidos, em uma dimensão oculta bastante rígida, do tamanho da casa, e com excepcional coragem. Não existe nada além da própria pessoa, representada pelo seu caráter, que pode ser ético, bem formado, ou não. O produto que sairá entre duas forças -o instinto desejoso versus a repressão social dizendo se pode ou não- que fazem com que nós sejamos esses seres sociais educados e gentis, pode cair por terra, aparecendo o instinto primitivo, indomável, sem educação, hostil, e agressivo. Devemos lembrar que se estamos nas condições de superioridade na Terra, essa não é só de liderança, mas de dominação e de subjugação à todas as demais criaturas que aqui habitam. Nosso instinto é agressivo, e é Ele falando nas redes sociais livremente. São dimensões ocultas passada aos outros, formando uma grande” galera” instintual. E como sabemos se alastra rapidamente e com força.

Quero terminar essa reflexão com um pensamento mais social e de dimensão oculta na sua influência mais adequada: “Não tenho tempo de desfraldar outra bandeira que não seja a de compreensão, do encontro e do entendimento entre as pessoas.” Elis Regina (cantora)

Matéria Publicada no jornal em Setembro/2016

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