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DEPENDÊNCIA EMOCIONAL É SOFRIMENTO CERTO


“Por que me arrasto a seus pés, por que me dou tanto assim, e por que não peço nunca, nada de volta pra mim... mas acontece que eu não sei viver sem você...” Roberto e Erasmo Carlos


“Doutor, eu não sei por que ele me maltrata, eu faço tudo por ele. Sou generosa em todos os momentos, cuido de tudo, compro o melhor para ele, dou atenção, cuido demais, mas ele sempre me deixa desconfiada, ele não me conta onde vai e eu preciso saber. E quando fica enfezado, me fala coisas horríveis, palavras ofensivas, calúnias. Mas eu não ligo, sei que ele é assim mesmo, e quero muito estar com ele, e a atenção dele, apesar disso. Eu amo esse homem, só que não posso perguntar nada que aparece uma ira enorme para cima de mim. Doutor, só entre nós dois aqui, essa semana ele me bateu, me machucou... Isso já aconteceu umas vezes, eu fico acabada de triste e deprimo... fico esperando o dia em que ele viva só para mim. A minha cabeça não anda boa para o meu trabalho, ando esquecendo coisas, e... só sei que minha vida se resume a esperar que ele fale comigo. Cerco toda a vida dele de todas as formas para que não fuja de mim. Não o abandonarei nunca porque não o deixarei para outra de forma alguma. Nunca! Além disso sou feia e velha já, quarentona, não encontrarei mais ninguém para ficar comigo. Ninguém vai me querer, até meus filhos me acham chata. Ontem me bateu um desespero enorme porque estou desconfiada que ele tem outra, vejo o celular dele escondido todos os dias, não encontrei nada ainda. Mas acho que ele apaga as conversas. Doutor, me ajuda, fala com ele por mim...”

Pois é leitor amigo, essa é a vida de um dependente emocional. Pessoa triste, depressiva, sem vida própria, chorosa, que implora atenção do outro, se submetendo aos mais perversos caprichos e situações de humilhação e submetendo o outro da mesma forma.

Você percebe que o centro de tudo está no outro? E que todos os pensamentos, sentimentos, são sobre o outro, bem como suas atitudes e desejos existem em função do outro?

“O dependente emocional não vive sem o outro.”

A dependência ou codependência emocional é uma condição psicológica, emocional e ou comportamental, que afeta a habilidade do indivíduo de ter uma convivência saudável e mutuamente satisfatória. Tem-se um relacionamento no qual a pessoa é controlada ou manipulada por outra, mas essa outra pessoa também sofre os impactos da doença.

A gente acredita que só a família que tem um dependente químico ou do álcool passa por esse transtorno da codependência, uma vez que no afã de ajudá-lo a livrar-se da doença da compulsividade, o tempo todo a família o coloca no centro dos pensamento, palavras e ações. Daí para a frente a vida acontece no sentido de busca dessa cura.

Mas não são só os familiares de adictos que sofrem codependência, porque os sintomas de dependência emocional podem surgir para além dessa história, e instalar-se nas relações em geral, e infelizmente é muito mais comum do que se possa imaginar.

Por que as pessoas desenvolvem dependência emocional?

Porque durante o período de desenvolvimento, dependendo das situações que elas passaram na relação parental, e porque começa na tenra infância, se ela experienciar faltas importantes como: falta de afeto, de atenção, de elogios, de estímulos positivos lhe dizendo que é capaz, de elogios quando acerta, de segurança e estabilidade no lar, ela será forte candidata a desenvolver dependência emocional por carência afetiva.

Quanto as famílias dos dependentes químicos, para quantificar o surgimento do transtorno há uma pesquisa no Brasil, realizada pela UNIFESP, (Dra Elizabeth Zamerul Ally) que aponta que cada dependente afeta em média 9 pessoas, e estimando que pelo menos 28 milhões de pessoas vivem hoje com um dependente químico fazemos uma idéia de quantas pessoas são portadoras de codependência emocional.

Tanto a dependente como o codependente emocionais do nosso exemplo; ou tanto os familiares dos adictos, o sofrimento de todos é grande.

Fazem parte desse quadro de dor sentimentos opressores mais ou menos a seguinte proporção de: tristeza (28 %), impotência (26%), dor, angústia, raiva, desespero, culpa, pena, decepção, solidão e medo.

Tem mais uma forma de desenvolvermos a dependência emocional, segundo a Dra. Elizabeth, que é quando estamos com um familiar em fase terminal e vivemos só para ele.

Como minimizar esse transtorno? Quais os cuidados que se deve tomar uma vez o percebendo?

Dentro do Código Internacional de Doenças (CID) é classificada como transtorno de comportamento e aí vão algumas dicas interessantes.

- Conhecimento, consciência do que é dependência emocional

- Auto análise para reconhecer que a tem é um passo fundamental para um possível tratamento que incluirá entre outros os ítens abaixo

- Reconhecer seu próprio valor, melhorando a auto estima

- Perceber que pode ter controle sobre si, e que o outro não é tudo

- Fazer programações para o dia ou a semana sem incluir outras pessoas.

Sem a identificação para se reconhecer como portador, nada pode ser melhorado no quadro de dependência emocional. O tratamento é de médio a longo prazo, uma vez que será preciso reorganizar o alicerce emocional da pessoa para a fortificação de seu EU.

Se você conhecer alguém que sofre com esses sintomas ajude-o a identificá-los.

Matéria publicada no jornal em Agosto/17

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