A XÍCARA DE CAFÉ
“Até pouco tempo, esses acontecimentos pareciam não ter relação conosco...”
“Certo dia eu estava tomando uma xícara de café quando uma pessoa esbaforida bateu em meu braço e o café derramou. Então um velho sábio que estava presente na cena me perguntou: -Por que você derramou o café? Respondi: -Porque é óbvio que ele bateu em meu braço, o senhor não percebeu? Ele ficou em silêncio, me olhou entristecido pela resposta. Acrescentou então: - Você ainda precisa aprender muito, pois só derramou o café porque tinha café na sua xícara.”
Essa é uma historinha oriental, que demonstra o quanto devemos te de sabedoria para interpretar os fatos, e como não a temos. Como não nos conhecemos e fechamos os olhos para os nossos reais sentimentos.
“ Se ao invés de café tivesse água, o café não se manifestaria”. Concluiu o velho sábio.
Por que será que sempre creditamos os acontecimentos ao outro quando nos exaltamos, nos magoamos, ou nos aborrecemos? Quando “batem em nosso braço”, as frases mais usadas são: “Ele me tirou do sério; ela me deixou nervosa; acabou me irritando; me fez perder a cabeça, me magoou”. E outros sentimentos que o outro despertou em nós, sem nos darmos conta de que já estavam lá, bem guardadinhos, arrumadinhos nos compartimentos : da cólera, da mágoa, do desgosto, do fracasso, da maledicência; todos no inconsciente, só esperando uma oportunidade para se manifestarem. Essa historinha oriental nos ajuda a pensar por que em nosso entorno as pessoas nos agridem de alguma forma, e as coisas não acontecem conforme o esperado causando descrença e desânimo. Nos sentimos vítimas ao invés de heróis.
È a superficialidade que nos faz acreditar quase sempre que o outro está intimamente ligado aos acontecimentos que nos envolvem e que acreditamos não ter controle. Mas na realidade, somos só nós os envolvidos, e toda ação que produzimos tem seu efeito. O princípio da inseparabilidade da vida demonstra que as causas de nossa alegria e tristeza se originam dentro de nós mesmos. E se percebermos nosso ambiente, entenderemos que ele é um reflexo do nosso estado de vida. Portanto se você não está bem, não vai encontrar nada bom em seu caminho, e suas atitudes voltarão para você.
-“Mas se eu me sinto mal, como fazer para reverter e receber coisas boas?
Acontece que para reverter esse quadro você terá um trabalho, o de não reagir negativamente, cortar essa atitude negativa, lembrando que é um trabalho pessoal e intransferível, cabendo exclusivamente a cada um , pois somos sim capazes de assumir total responsabilidade pela nossa vida, e dessa forma nos empoderarmos; para resolver os problemas e criar resultados positivos na situação em que nos encontramos.
A visão de vida e as questões sobre a existência são formadas pela consciência de si mesmo, com reflexo da famosa frase de Descartes “Penso, logo existo”.
Então quando a pessoa relata que “soltou os cachorros em alguém” como se isso fosse um mérito, ou diz que está com os” bolsos cheios de pedras” para receber alguém, podemos perceber que ela vive um estado interno “infernal”. E sabemos pela lei que rege todo o Universo, que suas ações se refletirão além do que ela pensa, pois ao ofender alguém ela ofende a todos os seres, provocando uma desarmonização com o Universo. Isso porque o que experimentamos na realidade diária é a atuação da lei de causa e efeito. A vida e seu ambiente são uma única dinâmica, fundamentalmente inseparáveis. Portanto, quando nós mudamos, as nossas circunstâncias inevitavelmente mudarão também.
“- Senhor velho sábio, então se ao invés de pedras, eu enchesse aquela xícara com pétalas de rosas, ou compreensão, ou abraços, essa ação faria com certeza, toda a diferença! Que interessante seria! Teríamos outras reações também no Universo!”
-“Sim, e quanto mais acreditarmos que nossas ações fazem a diferença, maior será a diferença que podemos fazer”. (e o velho se foi).
Toda lição aprendida deve ter resultado, e hoje leitor vamos lançar um desafio: Através de auto-análise vamos transformar uma ação ou reação que não seria interessante para a Paz Mundial. Para ver o resultado individual e coletivo.
...“Se a mente das pessoas é impura, sua terra será igualmente impura. Mas se sua mente é pura, assim é sua terra. Então, tudo se resume no bem ou mal da mente.”
Nichiren Daishonin (Buda dos últimos dias da lei, 1222)
Matéria Publicada no jornal em novembro/2017
