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O SUBMUNDO DO INCONSCIENTE



Aos trinta anos Maneco já havia se casado duas vezes. Nas duas situações ele começava o relacionamento oferecendo à pretendente muitos mimos, carinhos e adulações charmosas. Mas com o passar dos dias, se suas necessidades não eram plenamente atendidas, ele ficava furioso, fazia ataques verbais, chegando até a agressões. E quando as moças se demonstravam “intratáveis”, ele desfazia a relação, pedia o divórcio, engatava noutra história e se casava novamente. E quando estava no terceiro casamento, a moça forçou uma terapia de casais.

Podemos encarar as situações como uma produção de um pântano, e cada estado pantanoso existe algo, pensado como uma tarefa evolutiva. Assim como C G Jung (psiquiatra) sugeriu, que “em cada terapia o terapeuta deveria perguntar que tarefa a pessoa esta evitando através de sua neurose”, desse modo, temos que perguntar que tarefa está implícita nesse lugar sombrio de Maneco. Porque acreditamos que em cada caso somos desafiados a crescer, a empreender a jornada com uma maior consciência. Se de um lado, essa vivência dele é aterrorizante, será também libertadora de outro porque trará dignidade e significado à sua vida .Isso se ele a trouxer à luz.

Observando a vida dele, nota-se que seu padrão é claro. Levado a se ligar com muita rapidez ao feminino, assim que se aproxima e conquista, ele maltrata a mulher. Percebemos uma profunda necessidade e ao mesmo tempo - o medo. São simultâneos, e só pode ser produto de experiências primordiais, isto é, da relação dele com a mãe.

Maneco não consegue lidar com a dúvida, não tolera e precisa ter garantias. Qualquer necessidade não satisfeita gera dúvida e não dá garantia. Ele vai oprimir aquela que pensa diferente dele, pois não pode ter o benefício da dúvida, por não conseguir ou querer olhar para dentro de si. Poderá descobrir uma grande mentira que construiu e que acaba sendo seu “senso temporário do EU, isto é: “ A criança que foi maltratada pela mãe ainda precisa dela. Ao mesmo tempo ele a teme e a odeia”. E quanto mais cedo no desenvolvimento do indivíduo esse trauma ocorreu, mais, sistêmicas serão suas defesas, e mais penetrante será a sua transferência dessa dinâmica para a outra pessoa. E se não entender isso, poderá passar a vida ferindo os outros e ao mesmo tempo ser incapaz de uma reflexão para poder assumir a sua responsabilidade.

Podemos dizer que o neurótico (termo que abrange quase todos nós) é o pior inimigo de si mesmo. Seu Ego não tem suficiente força para dialogar com questões pessoais.

Maneco ao contrário da maioria que não consegue, até conseguiu uma boa posição social, mas estará sempre preso na infância, tendo cada decisão sua dirigida e definida pelo ferimento primordial.É uma vida alimentada por uma profunda fonte subterrânea de” ferimento e desejo”. Procura desesperadamente uma ligação com ELA, e ao mesmo tempo a teme. É um segredo afastado até de si próprio. E como um pântano, se derrama sobre os relacionamentos ferindo, enlameando as outras pessoas.

Uma palavra em alemão (Zweifeln) sugere a separação que experimentamos quando sentimos dúvida. Admitir a dúvida que é a percursora de todo crescimento, sem ser dominado e paralisado por ela, não é tarefa fácil. E Wilson Mizner diz que respeita a fé, mas que é a dúvida que nos conquista uma educação. A posição que é intratável, que não pode se refletir sobre si mesma, é fascista, monolítica, empacada. Goethe observou que é – A lealdade à opinião petrificada.

Isso porque com a dúvida surge uma angústia maior, daí as inúmeras defesas armadas contra ela. Além, correr o risco de sentir dúvida significa correr o risco de sentir mais ansiedade.

Arriscar-se a sentir mais ansiedade significa abrir-se à expansão da personalidade contra a qual nosso rígido ponto de vista é uma defesa.

Mas o que tem de bom a respeito da dúvida? Na verdade segundo James Hollis (escritor, psicólogo Junguiano) a dúvida é o combustível necessário para a mudança,e, por conseguinte, para o crescimento.

Ainda bem que a grande maioria de nós não está tão ferida quanto Maneco e consegue admitir culpa, e muitos refletem suas atitudes ou fazem terapia.

Quanto ao nosso personagem, precisará penetrar no seu inconsciente, uma árdua viagem, mas que o fará ser uma pessoa mais respeitosa e admirável. Em paz consigo mesmo.

Matéria publicada no jornal em 10/02/2019


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