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DROGAS: "TEM MUITO MAIS DO QUE MALES AO CÉREBRO"



“Vários estudos apontaram que drogas eram muito perigosas, porque ratos de laboratório apertavam compulsivamente a barra da gaiola experimental, e recebiam cocaína até morrerem de overdose. Só que a única substância ofertada a eles no experimento era a cocaína; então eu fiz novo experimento ofertando outras coisas, como: uma fêmea, uns brinquedos apropriados, docinhos, umas bananas, e outros objetos, e os ratos não usaram cocaína até morrer. Isso mostra que se animais tiverem outras opções a escolher, as drogas deixam de ser problema.”

Este é o relato de Carl Hart,(52) o primeiro neurocientista negro a se tornar professor titular da Universidade de Colúmbia, Nova York, EUA, numa vinda ao Brasil em 2015 ( em uma entrevista para a FOLHA de São Paulo, para a jornalista Fernanda Mena). Seu livro “Um preço muito alto”, contém revelações,e uma delas, afirma que três presidentes americanos usavam drogas, porém desempenharam muito bem e conduziram o País ao sucesso.

Então leitor, acredito esse ser um assunto muito pertinente no momento em que temos uma pastoral – “Pastoral da Sobriedade”- aqui na paróquia Nossa Senhora de Fátima, se consolidando na função de auxílio aos familiares de pessoas que abusam de substâncias psicoativas, bem como a esses usuários quando em recuperação. E para deixar o leitor atualizado num assunto tão relevante e atual levando-se em conta que está mais próximo do que se gostaria ou que se possa imaginar.

Carl relata que entrou na faculdade pelo programa de cotas. Esteve aqui no Brasil, para participar de um seminário e lançar um artigo na revista Internacional de Direitos Humanos - SUR. Sua meta inicial era trabalhar até encontrar uma solução para a dependência do Crak e outras substâncias. Ele acreditava que o crack era O problema nos Estados Unidos. Ele queria encontrar a saída.

Nos seus experimentos as pessoas ficavam 3 semanas internados e incomunicáveis, a população alvo era portadora de comportamento abusivo de droga, isto é, dependentes Elas poderiam escolher entre uma porção de droga ou outro item disponível . Carl Hart percebeu que, na metade das vezes a pessoa até preferia drogas, mas na outra metade, a pessoa trocava a droga por outros itens ofertados, tais como dinheiro para que pagassem certas dívidas dele lá fora. E quando era uma quantia de dinheiro um pouco maior, mais da metade optava pelo dinheiro, mesmo que demorasse bastante tempo na abstinência pois iria demorar para poder gastar.

Numa entrevista ao Dr. Dráusio Varela (médico) Carl diz acreditar que o crack acabou substituindo as drogas injetáveis porque: aspirar é melhor que se picar, não depende de equipamento como seringa e agulha, não dói e produz o mesmo efeito além de ser bem mais barato.

Temos aqui algumas respostas que surgiram de seus estudos, são interessantes e vou sintetizar brevemente. O que suas experiências mostraram?

1 -Observou que a minoria das pessoas que usava droga se tornava um dependente dela. Segundo ele, a droga que causa a maior dependência é o tabaco,38% dos que a experimenta; Depois vem a heroína com 25%; O crack em terceiro com 20%; Álcool com 15%. E maconha com 10%.

2- Entendeu que diversos fatores podem ser significativos e dependerá de quem é o doente e suas necessidades. Isso o frustrou pois infelizmente, não necessariamente havia uma solução comum para a dependência ao abuso de qualquer substância , lícita ou ilícita

3- Se forem supridas as necessidades básicas dessas pessoas através de programas adequados, poder-se-ia evitar pequenos furtos, e dar a oportunidade para que sejam capazes de assumir algumas responsabilidades, mesmo sem eliminar o uso. Isso diminuiria inclusive em muito a superlotação dos complexos carcerário.

4- Oferecer um trabalho de quatro ou cinco dias, menos horas, faz com que se sustente e à sua família. Pois é uma forma de melhorar a sua existência e auto estima, diminuindo as recaídas, e auxiliando a recuperação.

5-A pergunta que toda a sociedade deve fazer não é se está ou não usando drogas, mas se está arcando com as suas responsabilidades quase que na totalidade do que lhe foi passado.

6- A grande idéia é a de que essa pessoa esteja “tocando o seu barco”e não esteja na rua cometendo crimes, isso é um grande avanço.

7- Muitas vezes o indivíduo até almeja usar drogas, mas ninguém quer usar droga o tempo todo, isso é uma ficção, um personagem. Uma vez na rua, segregado social, não tem alternativa.

8- E um dado interessante é que seus estudos demonstraram que, torna-se dependente de droga, indivíduos que tem também mais chance de apresentar distúrbios psiquiátricos, como depressão, ansiedade, esquizofrenia, falta de sentido na vida, Personalidade border line,super protegido, inseguro, transtorno opositor desafiador, e outros.

9-A grande pergunta é : É possível que a doença o esteja levando à dependência? E se tratarmos o distúrbio, a dependência poderia desaparecer? A pessoa pode não ter aprendido a ter responsabilidade e a dominar seu comportamento (falta de limite)?

Em outras palavras resumidas, ele percebeu que devido a” N “problemas de ordem psicológica e psiquiátrica de cada pessoa, fez com que o uso de drogas fosse a melhor opção que essas pessoas encontraram naquele determinado momento, quando tiveram o primeiro contato. E que então o crack não é o problema por si só.

Quanto ao tratamento compulsório, (como exemplo ele cita a China), diz ser totalmente contrário, alegando a China não ser exemplo em Direitos Humanos. Igualmente também se coloca contrário ao tratamentos levando em consideração somente as doutrinas religiosas, explicando que tem profundo respeito às religiões, mas no caso, ,esse tipo de tratamento é psiquiátrico, portanto, é algo que precisa ser desenhado individualmente; pois se o indivíduo apresenta depressão, existe um diferencial em relação ao indivíduo que está com falta de alternativas de vida, e que também será diferente de outro indivíduo com traços esquizofrênicos. Enfatiza a importância do ambiente para a recuperação, mas principalmente diz que os governos não se compromentem com políticas sociais para combater a desigualdade social e garantir acessos e oportunidades aos cidadãos mais carentes.

Diz ainda que os responsáveis pelo tráfico são os que estão lucrando com isso, os poderosos, os políticos e as autoridades.

Visitando a cracolândia afirmou que o crack é o menor dos problemas de lá, pois assim como nos Estados Unidos, é a evidência, é “SINTOMA” de dificuldades econômicas. Falta de oportunidades e de educação. O crack é o “bode expiatório”. Assim como um carro pode servir, pode matar, dependendo da consciência de quem dirige e assim é a droga, há que se ter respeito. Em tudo. E que tudo faz parte de educação. E cobra dos seus filhos fazer o bem para a sociedade, e ser a voz para os pobres, e para isso precisam ir bem nos estudos. Porém, se dirigirem muito rápido, fizerem sexo sem camisinha e usarem drogas de uma maneira a atrapalhar seu desempenho na escola aí sim, terão um problema com ele.

Para terminar Carl diz que o Brasil está repetindo os mesmos erros que os EUA. de 30 anos atrás.

Matéria publicada no jornal em agosto de 2019.

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