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AQUI AGORA E O IMEDIATISMO





Bibi (90 anos) tem um filho, Alberto (58 anos) colecionador de carros antigos. Num dia ensolarado Alberto convida a mãe a dar um passeio com um dos carros conservados e brilhantes, um Volkswagen ano 1965. No trajeto aleatório ele passa por parques e praças moderadamente para que ela observe a paisagem sem pressa. Ela tem todo tempo do mundo para apreciar e refletir sobre os eventos que se descortinarem à sua frente. Curte detalhadamente. Em determinado momento Bibi confrontando o interior do carro com os atuais, tem a sensação de estar nos anos 60. Alberto para o carro em um semáforo no centro da praça onde um grupo de jovens esperava para atravessar. Mediante a cena os jovens expressam admiração em voz alta:-“ Ó! Um carro tão conservado portando uma senhora da época!”.

O que causou um sentimento de espanto também em Bibi. Ela ouviu e nada falou. Uns minutos depois pensou: “Não consegui me expressar naquele momento porque estou mais lenta, mas EU estou inteira, o que está truncado está no meu cérebro, é a conexão. As expressões faciais não surgem com a mesma intensidade bem como o corpo não obedeceu, a língua não falou. Deu a impressão que eu fiz coisas desconexas, como se perdesse a conexão, mas EU sou Eu. Olhou para Alberto e disse: O que você é, está lá! Mas não sai!” Claro que Alberto acreditou tratar-se de uma desconexão da mamãe. Ela continuou: “Os velhos olham fixamente e sem falar, mas é uma dificuldade neural. Meu filho eu quero dar e receber um abraço carinhoso.”

Presente passado e futuro se misturam na existência das pessoas assim como nosso processamento cerebral se conecta analisa e reflete todo o tempo, na escolha de horizontes a percorrer. Mas como a vida escolhida por muitos é corrida, nem sempre podemos nos dar conta de reflexões, que estão abaixo do nosso nariz e não as observamos. Bibi não sabe, mas agora vive sob a cultura do imediatismo. Isso significa que não há tempo para refletir sobre seus próprios atos, e sobre aquilo que pensa. O excesso de tarefas está em alta, todos produzindo em larga escala, nos faz pessoas ocupadas demais impedindo os momentos de reflexões como os da personagem, e passamos anestesiados pelas experiências que são bem legais enquanto vivemos. Não tem como sabermos inclusive o que somos e o que desejamos, para criar metas a perseguir e realizar. Isso acarreta certa inconsciência de si mesmo. E algumas pessoas acreditam na hipótese de que é devido ao universo digital. Deixamos de conviver, não interagimos e sobra pouco tempo para refletir o que comeu ou pensou ou viveu hoje..

Segundo a organização Mundial da saúde esse estado causa impacto violento sobre a sociedade, o que fez aumentar o numero de depressivos, de ansiosos, bem como aumento da população que se suicida. Toda espera transforma-se em perda de tempo, estamos mais cansados, rimos menos, temos pouco tempo para ouvir ou falar com as pessoas. Comemos mais e nos divertimos menos. Engordamos e entristecemos. Os pensamentos são rasos, e quanto menos se pensar, melhor será. A mente acaba habituada a ter desejos satisfeitos no ato. As pessoas não sabem em quem confiar pelo excesso de notícias e informações, confundindo a sobriedade por conta das fake news e das “bolhas” ( inserindo o usuário de internet num único viés de pensamento). Recentemente vi uma pesquisa reveladora do sono sem qualidade, de muitas pessoas. O extraordinário é que a palavra cultura tem como definição o complexo de atividades, padrões sociais que definem uma sociedade, e são ligados à criação e difusão das belas artes, ciências humanas e afins. Então nem deveríamos chamar o imediatismo de cultura, pois ele é inverso à definição.

Segundo contribuições do professor Rishkoff, vivemos o que denominou de instante prolongado, uma concepção de tempo onde o passado não existe e o futuro é sempre incerto. Apesar de não ser uma conclusão errada, o problema está em ignorar o passado porque ele não pode ser mais alterado e negligenciar o planejamento apenas porque não se sabe o que o futuro nos reserva.

O fato é que estão sempre conectados a um presente raso e não dão importância às experiências do passado, bem como a planos para o futuro porque não há tempo para tal. Mas ao pensar no futuro estamos escrevendo e modificando o presente, e ao pensar no passado estamos trazendo experiências valiosas e que podem evitar más escolhas; se não nos preocuparmos em pensar, refletir sobre o que se vive, e o porque da escolha, bem como o que fará um bem, então o que nos espera amanhã? Mediante o clima de intolerância a frustrações, ansiedade exacerbada causando níveis altos de pessoas depressivas, se houver alguém que reflita sobre a vida, será que encontrará alguém como Bibi encontrou, para dar um abraço carinhoso?

Apesar de as forças do mal serem muitas, elas não podem prevalecer sobre uma única grande verdade. Nichiren Daishonin ( Buda)

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