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DAR VISIBILIDADE AO IDOSO




A velhice é um vento que nos toma no seu halo feliz de ensombramento. E em nós depõe do que se deu à obra somente o modo de não sentir o tempo senão no ritmo interior de a sombra passar a transparência do momento. Mas um momento de que baniram horas o hábito e o jeito de estar vendo para muito longe. Para de onde a obra surde. E a velhice nos ilumina o vento. ( Poesia de F. Echevarria ).


Frequentemente as pessoas idosas enfrentam situações diversas e nem sempre as melhores, como se vê ocasionalmente. Como no artigo anterior, poucas oportunidades de participação ou quase nenhuma são oferecidas para a dona Bibi. Todos conversam com todos, mas não dirigem a ela alguma boa conversa, que se vê, relegada a ver o que os netos fazem no celular.

Antes, as pessoas gostavam de ouvir a experiência dos mais velhos. Hoje, são consideradas as influenciadoras, com milhões de seguidores, pessoas que fazem uso de excentricidades, truques, filtros e até por simplesmente usar um esmalte novo nas unhas, ou coisas do gênero.

Só que precisamos perceber que há mudanças de comportamento social, e que com o idoso não é diferente. Se antes o idoso não podia contribuir muito financeiramente, vemos hoje uma porcentagem significativa deles sustentando a família, na medida em que o desemprego assola nosso país principalmente as pessoas com poucas qualificações no trabalho, e que são os jovens na maioria. Sustentam filhos, netos, e mesmo assim, permanecem com a cultura de inúteis e pouco interessantes, dando somente à juventude as glórias da graça, da inteligência, da cultura e conhecimento. O modelo de felicidade e sucesso.

Como já dissemos, se a humanidade sempre quis o elixir da vida longa ou eterna, parece que os estamos encontrando, pois ainda não havíamos vivido tanto. E agora o que fazer com isso? Por que banalizar algo tão desejado e bem quisto anteriormente?

Em todas as culturas existe o arquétipo do velho/velha sábia, e sobre isso Carl Gustav Jung (psiquiatra) diz que: “ao que parece os homens e mulheres não existem somente para perpetuar a espécie, como nos outros animais, mas têm um objetivo individual a alcançar muito para além disso, e por isso vivem cada vez mais tempo”.

Embora há diferença no envelhecimento entre quem pode mais e quem tem poucos recursos, e se as pessoas estão vivendo mais e envelhecendo mais tarde, isso também significa que a qualidade de vida melhorou. O aspecto físico rejuvenesceu, intelectualidade aumentou, planos e objetivos são constantes., só que agora temos de entender que socialmente também deve melhorar.

Durante o período de afastamento social, pudemos ver o surgimento de vários blogueiros entre pessoas com idade maior divertindo e orientando a moçada.

Mas existe um ponto que gostaria de enfatizar, o preconceito sobre essa fase da vida – um fenômeno assustador – por isso é bom falarmos sobre ele, trazê-lo mais vezes à tona.

O processo de velhice não significa somente a finitude que todos temem. É muito mais do que isso, existe vida ativa produtiva amorosa, alegre, feliz e sucesso com resultados financeiros inclusive. Torna-se necessário entender essa dificuldade em lidar com o fato de que sim, um dia, como tudo, nós também teremos nossa finitude, porém isso não pode ser visto como uma tragédia.

Inclusive, a fragilidade física no idoso é vista como um defeito, porém estamos dizendo que indivíduos frágeis não tem lugar na nossa sociedade?

A gerontóloga doutora Ruth Gelehrter (Pontifícia Universidade Católica, PUC), afirma que “olhar para as necessidades dos velhos é ampliar os horizontes de um bem estar que reverte para o coletivo; por isso deve- se desenvolver políticas públicas para discutir essas questões, com apoio das mídias, envolvendo a população, pois é pertinente à toda sociedade.

Um dia, quase todos chegarão lá! Quem deseja morrer antes de envelhecer?

Matéria publicada no jornal julho/21

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