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DIGNIDADE E VISIBILIDADE PARA O IDOSO


Você conhece os cinco direitos estabelecidos nos princípios das nações unidas para pessoas idosas, de 1991?

· Independência (autonomia física e financeira).

· Participação (permanecer integrado à sociedade).

· Cuidado (usufruto dos direitos humanos e liberdades fundamentais através do cuidado familiar ou institucional).

· Autorrealização (desenvolver potenciais tendo acesso a educação, cultura, espiritualidade e recreação).

· Dignidade (segurança, livre de maus tratos ou explorações).

Dona Bibi, aos 87 anos, está numa reunião familiar, onde poderá presenciar a dinâmica famíliar, matar a saudade dos filhos, netos e até já tem um bisnetinho participando do almoço festivo.

Ela sempre foi uma mulher muito dinâmica, bem informada, cursou faculdade, e após a aposentadoria, ainda frequentou por 15 anos a PUC (Pontifícia Universidade Católica), na faculdade para a terceira idade.

Pensa numa pessoa com muito conteúdo, bom papo e alegre, otimista, vontade de viver, pensou na dona Bibi.

Mas o fato interessante que ela observou foi que ninguém conversava com ela. Os filhos conversavam entre si, as esposas, tinham muitos assuntos, quase todos rasos, amenidades, e ninguém se achegou para uma conversa com ela. Distraiu-se com o bisnetinho, contou umas histórias para o netinho menor fruto de segunda união do filho, e na maioria do tempo passou calada, observando as conversas.

Observando as diretrizes citadas pela organização mundial da saúde, a ser seguida pela maioria das pessoas que amam seus parentes idosos, qual das diretrizes é a mais difícil de ser observada pela família de dona Bibi, e de tantas outras famílias?

Por que uma pessoa que todos sabem, está muito disposta e centrada, tem muito a ensinar e ainda quer aprender, acaba sendo afastada das rodas de conversa?

Podemos observar uma mulher de mais de oitenta, que seu tempo é de agora, 2021, porém o que será que a impede de estar conversando até mesmo sobre amenidades, ou sobre assuntos de profundidade.

Em várias partes do mundo, nas mais diversas civilizações os idosos eram (ainda são) reverenciados, como os sábios, detentores das boas ideias, das soluções inteligentes resultantes das experiências.

Entre os índios, os velhos são respeitados quando falam, é uma honra ouvi-los, são os transmissores da história, passado e tradições. Isso também se aplica na mitologia grega, com a deusa filha de Zeus, Atena, (também conhecida como Minerva), a que não é nem bela e nem feia, nem nova, mas reverenciada pela sua sabedoria, justiça, a protetora dos heróis.

Graças a alta fecundidade no passado e a redução da mortalidade da população, o envelhecimento da população, assim como a brasileira, é uma das maiores conquistas da humanidade.

Segundo Peplay Eperlman (1982), sentir-se só não é sinônimo de estar só, pois representando este último é um isolamento subjetivo, enquanto o primeiro é mais objetivo.

A solidão é um sentimento angustiante e penoso, que conduz a um mal estar em que a pessoa se sente só, ainda que rodeada por pessoas, por pensar que lhe falta suporte, sobretudo de natureza afetiva. É uma experiência dolorosa, desagradável.

Qual é então o papel do idoso na nossa cultura? Percebemos que ele se configura através de valores morais e expectativa de conduta para cada pessoa, em diferentes etapas da vida. Ele não é apenas um indivíduo sujeito a um fator biológico.

”A sociedade, através de seus valores culturais sociais econômicos e psicológicos, é que determina o papel e o status que o velho terá” (silva, 2003).

Infelizmente nossa cultura cultua a valorização do novo, resultando que o idoso, mesmo e apesar de toda experiência e cultura acumuladas, e das muitas contribuições feitas para a constituição da sociedade atual, não só, não é valorizado, como passa a ser um problema a ser solucionado.

Faz-se necessário refletir sobre a possibilidade no Brasil de se instalar mais um preconceito estrutural além dos que já instalamos. Vamos pensar mais nesse assunto?

Na verdade, ele não consta na lista da OMS (Organização Mundial da Saúde), caberá a nós essa discussão, bom papo para o próximo artigo.

Matéria Publicada no Jornal junho/2021


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