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NÃO TENHO IDADE PARA ISSO?


(Conversa de criança) -“Olá vovó está tudo bem? Quer um guaraná? Oi Netinho querido sim está tudo bem então traga um chope geladinho para sua avó”.

-“Que idade tem sua avó? Ela usa salto alto sem medo de cair? Ela não tem idade pra isso”! - Não sei do medo de cair, mas sei que ela tem cinquenta anos.”

O leitor ouviu falar sobre etarismo, idadismo ou egeísmo? Significa discriminação das pessoas por idade, isto é, preconceito das pessoas com pouca idade ou mais idade. Na verdade, é o terceiro mais forte dos preconceitos. Só perde para discriminação racial e identidade sexual. Referem-se às frases do tipo de brincadeirinhas ou piadinhas e frases do tipo:

- Meu jovem, você não tem experiência ainda! Você não tem a experiência exigida para o cargo. Lugar de velho é em casa. Está ficando gagá. Pega o terço e vai rezar. Vai fazer crochê e ver televisão. Na praça está cheio de velho jogando dominó, vai lá. Sinto muito essa vaga é para pessoas mais novas. Na sua idade o salário é menor. Exibindo as pelancas na academia? Não vamos levar a mamãe, será um empecilho.

O etarismo surge em sociedades que aceitam a desigualdade, isto é, no mundo em geral, como se fosse normal. E quanto mais desigual a sociedade mais forte é o etarismo. No Brasil mais de 16% da população com mais de 50 anos sentiram-se vítimas do etarismo.

O artigo 71 do estatuto de idoso diz respeito a multa ou reclusão para quem desdenhar, humilhar, menosprezar, discriminar. Se o indivíduo for o responsável pelo idoso a pena aumenta em 1/3.

Dona Bibi relata: “Olha só, ninguém me maltrata, mas ninguém conversa comigo. Fico isolada”. Essa atitude preconceituosa tem respaldo jurídico, pois ao desmerecer um velho, além de multa, pode levar de seis a um ano de reclusão. Mas isso não é significativo se considerarmos os prejuízos emocionais afetando a saúde dos que sofrem discriminação.

Do ponto de vista da psicologia a dificuldade está em aceitar o fato de que se não morrer, vai envelhecer. Negando a morte, abomina a velhice, a desconsidera, e ao se confrontar com o idoso passa a acreditar tratar-se de uma pessoa de menos valia. E interpreta que ele perdeu o tônus muscular, o vigor físico, enrugou e ficou feia porque quis. Como se ao não portar o semblante dos 20 anos dependesse da pessoa. Mas acredita que consigo acontecerá diferente. É deflagrado um mecanismo de defesa da psique de negação, negando o fato de que ao nascer inexoravelmente envelheceremos, adoeceremos e morreremos. Esse é o caminho, a lei e o etarismo é um problema de preconceito estrutural.

Essa perseguição ao idoso afeta a saúde mental, pois são lançados a ele contínuos sinais de rejeição, não aceitação da condição de um pouco mais lento; desprezo nas conversas familiares e sociais, falta de respeito, e desconsideração da reserva de lugares destinados, humilhações, e inclusive agressões verbais e físicas. Mesmo não sendo um idoso, qualquer pessoa adoeceria nessas condições, pois configura baixa autoestima gerando depressão.

Interessante notar dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), avisando que hoje 13% da população têm mais de 60 anos. E que em 2031 haverá mais idosos do que crianças e adolescentes. E 2042 seremos 57 milhões de idosos.

Falemos da incrível capacidade do cérebro depois dos 60 anos. Pois a interação dos hemisférios direito e esquerdo torna-se harmoniosa e expande as possibilidades criativas. É um cérebro prático. Na University School of Medicine de Washington, pesquisas relatadas pelo diretor George W. mostra que as funções básicas melhoram. A memória imediata tende a falhar mais, enquanto as habilidades intelectuais até crescem.

Vantagens sobre o fato de possuírem maior conhecimento sobre a vida, controla melhor as emoções, aumenta a criatividade e não perde mais tempo com futilidades. Errou e acertou muitas vezes.

As Faculdades para a terceira idade são muito bem vindas, bem como a necessidade em se sentir útil. Inclusão digital melhora a qualidade de vida, amplia as comunicações, trás informação e ajuda na adaptação desse mundo contemporâneo. Gera mais autonomia. Deve se ensinar passo a passo, anotar num caderninho e repetir várias vezes, e propiciar condições para que utilize os aparelhos adquiridos.

A passagem do tempo deve ser uma conquista, não uma perda! E mesmo que o tempo vá roubando as forças, não o condene.

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