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É FÁCIL DECIDIR?


Duda conversa com Ana:

-Vamos à festa na casa do Cacá? Lá vai rolar um som bacana do DG Kevinho!

-Não sei. Na casa do Rafinha também vai rolar algo legal, não vai ter música, porém aquele menino que estou “flertando” falou que vai até lá...

-A que pena! Então eu vou sozinha? Mas vai ser muito sem graça sem você

-Vou pensar e decido mais tarde

Fazer escolhas não é um processo fácil, implica em avaliar as opções que a realidade oferece e renunciara algo acreditando que aquilo que se escolhe seja a melhor opção. Portanto as escolhas excluem (tudo o que não foi escolhido).

Não é só necessário, mas inevitável escolher e tem a ver com nossas atitudes todo tempo como escovar os dentes, tomar banho, alimentar-se, trabalhar. São decisões tomadas a partir do uso de regras simples e automáticas, muitas vezes inconscientes. Fazem parte da heurística isto é, vieses cognitivos. E para problemas que exigem procedimentos mais racionais a elaboração é maior antes das escolhas. Ás vezes não temos escolhas, por exemplo envelhecer, mas podemos escolher bons hábitos para envelhecer melhor, ou não. Como temos muitas variantes nesse processo de escolhas, sentimos medo de decidir, pois percebemos que é fácil escolher a situação que pode não ser a certa. Vamos entender melhor?

A aprendizagem nesse contexto tem valor fundamental para a sobrevivência dos seres vivos que segundo (Cosenzo, 2016) podem ou não ser conscientes – tudo guardado na memória – a de longa duração – a memória implícita e explicita. Memória implícita – ao observar sem perceber que está aprendendo, automático. Observando o dia a dia da família, do entorno, noticiários. A explícita – (declarativa), é uma evocação deliberada de experiências prévias, consciente do fato, que pode ser sobre pessoas, lugares, coisas. O interesse por determinado assunto onde você busca a informação na aprendizagem formal, curiosidades e especialidades na profissão.

Memória implícita e explícita são as estruturas neurológicas responsáveis pelas escolhas (num breve resumo), relacionadas ao processo decisório que determinará a sequência das ações que se seguirão depois. Mas como o cérebro faz escolhas? O cérebro é ferramenta poderosa, porém é limitado. O problema é que existem “disfunções naturais” que podem prejudicar os processos cognitivos e com isso, a tomada de decisão. E que tem origem a partir das formas de aprendizagem do cérebro.

Heurística é o método de investigação baseado na aproximação progressiva de um dado problema a arte de inventar, de fazer descoberta: ciência. O procedimento que ajuda a encontrar respostas adequadas aos problemas difíceis (embora várias vezes imperfeitas), que tem por objetivo a descoberta do fato. Segundo trabalhos de Tversky e Kahneman (1974) são identificados três vieses que influenciam as escolhas: - disponibilidade (o que estiver

disponível), ancoragem ( já tem alguma pista) e representatividade (tem um prévio conceito). Ainda temos agindo consciente e inconscientemente vieses nas decisões: medo de julgamentos, interesse próprio, pressão social, aversão à perda, ambiguidade, enquadramento a alguma convicção, cegueira emocional, probabilidade.

Cosenzo nos diz que a aprendizagem é de fundamental necessidade nas escolhas para nossa sobrevivência, então os novos comportamentos são sempre necessários, pois nos ajudam a escolher e decidir de acordo com as circunstâncias. Portanto para melhores escolhas devemos estar abertos ao novo. Vamos fazer aqui uma observação pertinente: ao ensinar o que sabemos ao filho temos em mente a convicção de que o certo seria ele decidir escolher baseando-se nos argumentos que oferecemos previamente, porém no processo deliberativo – a verdadeira forma de decidir, acontece quando utilizamos regras e conhecimentos que nossos antepassados desconheciam. Toda escolha é individual, acontecendo a partir da forma de aprendizagem de cada cérebro.

Voltando à dúvida das meninas do exemplo, apesar de decidirem ir à festa de Cacá ou a de Rafinha, poderão escolher por interesses próprios e se separarem. E se não rolou o som, o DJ Kevino desistiu em ir à casa de Cacá? A ação determinada de ir até o evento só para vê-lo não deu certo. E o menino do flerte? Estava resfriado, com febre e não compareceu à festa do Rafinha.

Todo trabalho cerebral por que passamos para decidir cada escolha e agirmos naquela intenção, pode não dar certo também por questões externas. E mesmo que seja mais racional, ainda existe o componente emocional na hora da decisão - fazendo a sua cabeça – e que pode ou não dar certo.

Na maioria das vezes em que a escolha frustrar surgem sentimentos de culpa e vitimismo. O indivíduo pode sentir insegurança nas próximas situações similares. Como se tivesse falhado com a responsabilidade em escolher o certo. Lacan diz que “na nossa condição de sujeito somos sempre responsáveis”. Porém, quando a escolha não dá certo, lembrando a quantidade de variáveis e vieses que a influenciaram, devemos aprender com o fato, perceber nossa dimensão, entender e reiniciar a caminhada de novas decisões.

Decidir é um ato de coragem

Ter de escolher, ao tempo que provoca sensação de angustia, liberta, pois estamos onde estamos por escolhas que achamos serem as melhores até esse momento.

“Mesmo que no caminho para o enforcamento, o condenado terá a possibilidade de escolher seguir em silêncio, ou então delatar companheiros enquanto caminha para a morte” Sartre


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